Teatro gaúcho despede-se do talento de Dunga

Teatro gaúcho despede-se do talento de Dunga

Ator, diretor, dramaturgo e iluminador de 69 anos e com 45 anos de trajetória artística morreu na noite de ontem, em Santa Maria

Vera Pinto

Ator cantando "Balada do Ornitorrinco", acompanhado por Cida Moreira

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O teatro gaúcho perdeu, na noite de ontem (26 de janeiro), em Santa Maria, um de seus grandes talentos: o ator, dramaturgo, diretor e iluminador Antônio Carlos Brunet, aos 69 anos. Conhecido no meio artístico como Dunga, ele sofria de um câncer de bexiga que se espalhou pelo pulmão. 

Natural de São Francisco de Assis, Dunga possuía 45 anos de carreira e participou de aproximadamente 50 espetáculos, seja no palco, direção ou mesa de luz. Um de seus primeiros trabalhos foi em “A Morta”, com direção de Ana Maria Taborda a partir de texto de Oswald de Andrade, nos anos 70, no Teatro de Arena. Com Irena Brietzke, sua professora no Departamento de Arte Dramática da Ufrgs, manteve uma rica parceria, que resultou na fundação do grupo Teatro Vivo, com Mirna Spritzer e Denise Barella, de 1978 até 1990. Com ele montou “Frankie, Frankie Frankstein” (1979), a partir da obra de Mary Shelley, pelo Itaú Cultural; “Margarete, Sua Mãe”, com texto de Irene e direção de Miriam Amaral, que também esteve à frente de “New Your, New York” (1995), em que o elenco do coletivo dividia o palco com Adriane mottola e Zeca Kiechaloski.   

Dunga trabalhou na equipe do Porto Alegre em Cena de 1997 até o ano 2000, na Usina do Gasômetro. Na década de 90 começou a dirigir, começando por “A Secreta Obscenidade Nossa de Cada Dia”, de Marco Antonio de La Parra, com Evandro Soldatelli. Este espetáculo foi remontado várias vezes no interior gaúcho, com o ator Helker Paez, da Cia. Retalhos, com quem Dunga fez “O Beijo no Asfalto”, em Santa Maria do Hderval e no Porto Alegre em Cena, em 2007. E em 1996 foi a vez dele dirigir “King Kong Palace”, com Ida Celina, Zeca Kiechaloski, Paulo Vicente, Lourdes Elói e Carlos Cunha Filho. 

Discípulo da escola brechtiana, atuou em “Ascensão e Queda de Mahagonny”, texto do autor alemão que apresentou em São Paulo, sob a direção de Cacá Rosset, nos anos 1980 e oito anos depois, em Porto Alegre, no Instituto Goethe, com direção musical de cida Moreira. A seguir vieram “Cabarecht” (2009 e 2010), espetáculo com canções de Bertolt Brecht e Kurt Weill, com Sandra Dani, Zé Adão Barbosa e Cida Moreira, com quem dividiu o palco ao lado de Cacá, em “Ornitorrinco Canta Brecht e Weill”, no Teatro de Arena, em 2017. 

Com uma relação de amizade há 15 anos, o dramaturgo Luís Francisco Wasilewski compartilhou o júri de festivais de teatro pela região Metropolitana e Interior do Estado (Gravataí, Dom Pedrito, Erechim e Rosário do Sul) com Dunga, com quem ria muito. “Ele foi um ator que gostava muito de mostrar seus vários talentos: era ator, cantor, chegou a fazer shows solo e depois atuou como diretor. Estava sempre buscando coisas novas e sempre fazendo Brecht, desde Irene até com a Cida. Ficou sendo um ator brechtiano”, afirma o pesquisador, com pós-doutorado na UFRJ em Estudos Culturais, com a tese “Em busca da genealogia do humor queer na década de 1980”. 

Sobre sua partida, a atriz Lisiane Medeiros escreveu nas redes sociais: “As novas gerações podem não conhecer. Este é o Dunga, Antonio Carlos Brunet. Ator que faz parte de uma trajetória marcante da nossa província em espetáculos inesquecíveis pra quem assistiu: “Mahagonny”, “Nesta Data Querida”, “Essência de Macaco”, “Arlequim, Servidor de Dois Patrões”, “Casca de Ferida”, “Onde Estão Meus Óculos”, que gerou um dos melhores memes da classe porto-alegrense antes dos memes existirem. Um cara sério/irreverente de uma das melhores sepas teatrais deste cantinho perdido no sul da América do Sul”. Já o ator, diretor e autor Zé Adão Barbosa postou: “Hoje é um dia muito triste pra mim. Meu amado Dunga (Antonio Carlos Brunet) partiu já deixando uma saudade imensa. Grande artista, grande parceiro de cena, um humor ácido que nos fazia gargalhar incessantemente”.


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