The 1975 prova que menos é mais em “Being Funny in a Foreign Language”

The 1975 prova que menos é mais em “Being Funny in a Foreign Language”

Após fase experimental, banda britânica volta a ser uma paródia dela mesma

Correio do Povo

"Being Funny in a Foreign Language" é o quinto álbum da banda The 1975

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Desde o início de sua carreira, o quarteto britânico The 1975 se orgulha de não ficar estagnado em apenas uma fórmula de sonoridade. Entre quase uma década de trajetória e uma discografia de quatro álbuns expansivos que desdobram gêneros e musicalidades, a sensação é de que o The 1975 tentou quase tudo que a criatividade é capaz de produzir.

E é com essa mentalidade que o lançamento do “Notes on a Condition Form” (2020) foi concebido — um menu excêntrico de degustação de gêneros musicais que misturavam nuances de EDM, eletrônica, country, folk, shoegaze, punk e pop em um prato recheado de 22 faixas e longos 1h20min de duração. No entanto, em vez de ser o projeto inovador que eles imaginaram, o álbum se materializou em uma incoesa bagunça sonora (ainda que seja fundamentado em ótimas canções).

Diferentemente do antecessor, “Being Funny in a Foreign Language” chega aos ouvidos como uma tentativa de domar o gosto pelos excessos — o que se confirma por ser o álbum mais curto já lançado pela banda: apenas 11 faixas e 43 minutos de duração. A missão bem-sucedida de fazer o quarteto de Manchester soar orgânico ficou por conta do aparentemente onipresente Jack Antonoff, que assinou a co-produção de todas as músicas.

O êxtase extravagante e simplicidade sutil coexistem em toda a atmosfera do álbum, e ficam alternando entre o puro entusiasmo em faixas como a jazz-pop “Happiness”, nos sintetizadores buscados diretamente da década de 80 em “Looking For Somebody (To Love)” e “Oh Caroline”, no pop-perfection “I’m in Love With You” e, em momentos mais intimistas, nas baladas soft-rock “All I Need To Hear” and "Human Too”. Os destaques ficam para“Part Of The Band” com a sua belíssima composição orquestrada, vocais à lá Paul Simon e lirismo audacioso, e, principalmente, para a balada hit “About You”. 

Seja quando cantando sobre o desgaste da pós-modernidade ou escrevendo um groove cafona com saxofones sobre ser desesperadamente apaixonado, há uma implacabilidade na menta lírica de Matty Healy — que é descarado e pretensioso o suficiente para fazer referência aos poetas franceses Arthur Rimbaud e Paul Verlaine, baristas que usam tote bags, leite de soja e a cultura “woke” em uma única composição.

O fato é que Healy é brilhantemente competente nisso, tanto que ele propositalmente se coloca na posição de ser um narrador completamente não confiável — e ocasionalmente desagradável. E não é à toa que isso não somente o diferencia, mas também o faz ser um dos letristas e frontmen mais interessantes e icônicos da geração.

Entre a euforia adolescente do “The 1975” (2013), o pop superproduzido do “I Like It When You Sleep, for You Are So Beautiful yet So Unaware of It” (2016) e as canções grandiosas do “A Brief Inquiry Into Online Relationships” (2018), a banda volta a ser uma paródia dela mesma em misturar todos os elementos para entregar no “Being Funny in a Foreign Language” a representação da sua essência.

É clichê, é explicitamente pretensioso, é sutilmente profundo — e é isso que faz o The 1975 ser o The 1975.

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