The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, chega aos 50 anos e atravessa gerações

The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, chega aos 50 anos e atravessa gerações

Disco mudou paradigmas no rock e segue como tema de discussões após meio século

Felipe Uhr

publicidade

O disco "The Dark Side of the Moon", do Pink Floyd, completa 50 anos com a mesma contemporaneidade de quando chegou da prensa, naquele longínquo 1º de março de 1973. Com mais de 45 milhões de cópias vendidas e milhares de reproduções nas plataformas de streaming, o álbum atravessa gerações. “É um disco que eu sempre tenho que ter aqui, volta e meia me pedem”, confirma Claudio Berzagui, 69 anos, dono da loja de discos Prisma, instalada há 37 anos no centro de Canoas. Não, o nome que Claudio escolheu para a loja não é apenas uma coincidência com a lendária capa do disco que traz um prisma estampado.

“Fui totalmente influenciado por causa do disco”, confessa o experiente roqueiro que só foi ouvir aquele álbum em 1974, um ano depois do lançamento, quando saiu no Brasil. Naquela época, admite, estava envolvido com a música brasileira, como Os Mutantes, por exemplo. “Não era igual a hoje, que tu dá um clique no celular e ouve. A gente tinha de esperar chegar (no país). E demorava”, conta. 

Em tempos em que a internet ainda não havia aparecido, os conteúdos musicais eram limitados e as informações sobre rock, principalmente de fora, eram ainda mais raras. “Tinha uma revista chamada Caderno da Música, que era editada pelo (jornalista) Tárik de Souza e pela Ana Maria Bahiana, uma vez por mês. Saía tipo um fanzine e o único lugar que tu encontrava era na praça da Alfândega”, relembra em meio aos milhares de CDs e LPs.

Efeitos sonoros, psicodelia, suavidade são algumas características que Claudio elenca ao falar do álbum, além de frisar a importância das letras de Roger Waters, baixista, vocalista e principal compositor do Pink Floyd. “Esse disco tem tudo o que se vive num dia a dia: sofrimento, dor, tempo, dinheiro. Ele é um disco constante”. As letras foram tão importantes para o contexto do disco que a banda britânica decidiu, pela primeira vez, colocá-las no encarte do álbum. 

Falar do The Dark Side of the Moon também é voltar ao passado, quando Claudio trabalhava em Porto Alegre e estudava Artes Cênicas na Ufrgs. “A gente não tinha ideia do que se tratava. Não foi só uma mudança de estilo, mas uma mudança do modo de fazer música”, exalta. “Eu comprei na Artes Reunidas, uma loja que tinha em Porto Alegre na rua da Praia. Eu saí do banco, subia e comprava todos os meus discos lá”, relembra. Por fim, ele declama parte da música que mais o marcou, “Eclipse”, junto ao disco tocado em som baixo na loja.

De pai para filho 

Para o comerciante Thiago Gomes, 43 anos, falar de Pink Floyd é recordar o pai, Antônio Gomes, falecido em 2021, vítima de Covid-19. “Ele comprava os discos quando eram lançados,” conta Gomes que nasceu seis anos depois do lançamento de “Dark Side”. Ele tem em sua memória os primeiros anos de vida. “A minha infância eu passei ouvindo Pink Floyd, Led Zeppelin, essas bandas dos anos 70”. 

O pai Antônio não era apenas um ouvinte ou fã, também era músico, tocava “baixo”. Depois de anos tendo banda própria, com músicas autorais, resolveu se dedicar a homenagear seus ídolos. Em 2005, junto com Rodrigo Leismann (guitarra) e Leonardo Bacchi (bateria), fundou a Perfect Sense, banda cover de Pink Floyd. “Eles começaram a banda e depois de 15 anos o pai faleceu”, conta Thiago que agora faz parte do conjunto. “A pandemia, infelizmente, vitimou Antonio, o que levou os outros integrantes a cogitarem encerrar atividades”, explica Bacchi, de 39 anos, ressaltando que a vinda de Thiago para a banda motivou o grupo a continuar na ativa. 

     Thiago Gomes assumiu bateria da banda Perfect Sense, fundada pelo pai Antônio Gomes, falecido em 2021                          Foto: Fabiano do Amaral 

A banda agora prepara um show em tributo ao aniversário de meio século do lendário álbum, que será realizado em maio, no bar Sgt. Peppers, em Porto Alegre. “Estamos nos preparando musicalmente, fazendo arranjos e corais mais robustos”, frisa Bacchi.

Em 2019 a banda fez um show em homenagem aos 40 anos do disco "The Wall", ainda com Antônio. “A música é muito importante para todos nós e o Pink Floyd é a banda mais importante”, ressalta Thiago, que vê em "Dark Side of The Moon", além de um trabalho de uma engenharia musical de excelência, um disco muito atual. “Ele retrata as mazelas do mundo. Tudo o que a gente vive hoje, a corrida contra o tempo, essa ansiedade, a corrida pelo dinheiro, a depressão, a ansiedade, tudo isso é retratado no disco”.

Para Bacchi, o disco além de ser fora do padrão, é transcendental. “É tão impressionante esse trabalho. Nós estamos falando dele agora, mas daqui a 50 anos, nós vamos estar falando de novo.”

Dark Side e O Mágico de OZ 

Reza a lenda que basta dar o play, ou colocar a agulha em cima do disco, ao terceiro rugido do leão, que começa a mágica sintonia entre "The Dark Side of The Moon" e o também antológico filme, "O Mágico de Oz", de 1939. Uma possível sincronia entre filme e disco ganhou repercussão, não sabe-se bem ao certo da onde, em meados dos anos 90, e desde então vira debate quando o assunto é "The Dark Side of The Moon".

“Sinceramente, acho que inventaram isso”, opina Claudio. Para ele, que nunca fez a combinação, trata-se de uma coincidência, explicando também que viu o filme apenas uma vez, quando ainda era criança. Gomes tem a mesma opinião. “Eu acho que é uma grande coincidência. As músicas do disco têm uma função muito maior do que estarem relacionada a um filme, entendeu?”, argumenta. 

Coincidência ou não, em vários momentos do filme, cortes de cena e entradas de personagens combinam com as letras e melodia do disco. Como, por exemplo, começa a música “The Great Gig In The Sky” e no filme um furacão aparece e vira de cabeça para baixo a vida cotidiana de Dorothy, personagem central do filme. Na sincronização, a música termina no instante momento em que o furacão também vai embora.

Na sequência, começa a música “Money” e o filme fica colorido, assim como a capa do disco que mostra o Prisma onde inside a luz e sai em formato de arco-íris. Os ex-integrantes do Pink Floyd, Nick Mason (bateria), David Gilmour (guitarra) e Richard Wright (teclados) juram que tudo não passa de uma coincidência, ou “coincidência cósmica”, como descreveu o próprio Roger Waters, em entrevista ao comunicador Joe Rogan, em outubro do ano passado.

“Besteira. Claro que é! Quero dizer, pode não ser – pode (funcionar) se você fizer o que eles dizem; mas não tem nada a ver conosco. (Com) nenhum de nós. Não tem nada a ver com ninguém do Pink Floyd ou qualquer pessoa que gravou o álbum ou alguma música”, esclareceu o compositor e baixista. 

Banda Perfect Sense ensaia para show em homenagem ao aniversário do disco The Dark Side Of the Moon                                          Foto: Fabiano do Amaral

The Dark Side Of The Moon 

Foi lançado no dia 1º de março de 1973, gravado entre maio de 1972 até janeiro do outro ano, nos estúdios da Abbey Road, em Londres. Segundo a revista Rolling Stone, o álbum vendeu 45 milhões de cópias, sendo até hoje um dos mais vendidos da história. O disco tem um recorde: ficou 741 semanas seguidas, ou 15 anos (1973 a 1988) entre os 200 álbuns mais vendidos da Billboard. Uma lista dos “500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos da revista Rolling Stone, publicada em 2003, e atualizada em 2012, colocou o disco na 55ª posição. Todas as músicas do álbum foram compostas por Roger Waters.

 


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta quarta-feira, dia 1 de maio de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895