The Town: tudo sobre o show de Maroon 5 e Joss Stone

The Town: tudo sobre o show de Maroon 5 e Joss Stone

Com uma voz mais fraca que o normal, Adam Levine foi burocrático e Joss Stone fez um medley de músicas do seu repertório

AE

Adam e seu Maroon 5

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Adam Levine leva ali dentro uma contradição: os roqueiros o veem como líder de uma boy band arrumadinha e os boybanders o enxergam como mentor de uma banda de pop rock apenas competente. Por mais que se esforce em ganhar relevância, só seus shows podem tirar a prova.

Adam e seu Maroon 5 não fazem espetáculo, mas show. Isso é rock and roll. Não há momentos cênicos extasiantes nem nada que fale mais alto do que aquilo que ele canta, pro bem e pro mal.

"Moves Like Jagger" é colada a "This Love" para uma abertura de pressão. Isso é rock and roll. E seus músicos, sobretudo o guitarrista James Valentine, toca muito. Adam também sola muito, e isso é bem rock and roll. E ele faz um esforço insano para ficar feio, com um corte semi skinhead, o que seria rock and roll se ele conseguisse deixar de parecer um sex symbol dos anos 90.

Com uma voz mais fraca que o normal, Adam não prova muita coisa. Mas ergue o pedestal para o alto, corre pelo palco, dá socos no ar e grita em 1Love Somebody'. Depois, tem todo o esforço de sua banda nos riffs pesados de "Harder to Breathe". São atos roqueiros bem intencionados que nem sempre vencem a tentação de um popstar. 'Sunday Morning', adocicada e praieira, que o diga.

PJ Morton, o pianista de Levine, é um desses caras que poderiam ser melhor usados. Ele tem um trabalho de jazz e de blues sensacional, já fez shows solo no Brasil, mas acaba diluído no som duro do grupo. Mas qual seria seu espaço em uma canção como "Payphone" além de segurar a base para a voz de Levine? Não há muito o que ser feito, a não ser que tenham preparado um instante para Morton.

O grupo segue com um show sem fugas do roteiro. Adam fala pouco até boa parte do show, mais preocupado em emendar as músicas. "Heavy" chega como sendo a hora de Morton. É um blues e ele canta boa parte, deixando o refrão para Levine. Morton é um monstro que, com mais dois minutos de canja, deixaria Levine preocupado.

Ele chega a "Girls Like You" sem nenhuma grande conexão com a plateia, sem justificar por nenhum instante o fato de ser escalado para ocupar o posto de headliner de um festival do porte do The Town.

A banda saiu do palco faltando duas músicas para o fim, "She Will Be Loved" e "Sugar". Houve um silêncio um tanto constrangedor e muita gente começou a se movimentar para deixar o Autódromo de Interlagos. Mas a banda voltou, Adam usando agora a camisa da Seleção Brasileira, e eles fizeram uns sons acústicos.

Ele cantou "She Will Be Loved" na voz e violão e tentou colocar tudo pra cima com uma entrada inesperada da banda no refrão. Só acabou mesmo sendo salvo por "Sugar".

Faltou espetáculo. As pessoas não saem de casa mais apenas para ouvirem música. Para isso, elas têm o Spotify.

Joss Stone

No mesmo lugar onde, duas horas antes, fãs se espremiam para enxergar (mal) um pedaço do palco da brasileira Ludmilla, grupos de pessoas estavam sentadas, de costas para o palco, enquanto a inglesa Joss Stone se apresentava no The Town, no início da noite desta quinta-feira.

Não era culpa de Joss Stone, como sempre despojada, talentosa e com a mesma voz apaixonante de quando estourou aos 16 anos de idade, há 20 anos. Ela substituiu de última hora na escalação do festival Liam Payne, seu conterrâneo, vocalista do One Direction, que cancelou a vinda ao Brasil por motivos médicos.

Mas não tem como não notar: de novo, um festival de Roberto Medina colocou Ludmilla em um lugar menor do que ela merecia. Neste caso, o erro foi menor do que o Rock In Rio de 2022, em que ela fez um dos melhores shows do ano no palco secundário. Agora talvez nem Liam Payne conseguisse juntar mais gente. A impressão é de que a carreira de Ludmilla está sempre crescendo mais rápido do que o esquema de escalação deles.

Não que Joss Stone parecesse perceber ou ligar para tudo isso. Até porque tamanho de público nunca foi um problema para ela. Pelo contrário: a cantora, que surgiu como uma megaestrela adolescente, parece ter feito esforço ao longo de seus nove álbuns para fazer as coisas com menos exagero. Um projeto mais pé no chão da artista que sempre canta descalça e sem megalomania.

Joss Stone virou adulta e nunca gravou com Timbaland, não fez remix com David Guetta e nem parceria com o Coldplay. Sai por aí fazendo shows com vestidos esvoaçantes (três no show de hoje), dando espaço generoso para seus músicos brilharem - o baixista faz dois solos no show, o que não é exatamente o conceito de entretenimento de um dia pop do The Town. Tudo competente e um pouco morno.

No início do show, ela faz um medley de músicas do seu repertório (You Had Me, Free Me e Bad Habit) com "You Got the Love", que ficou popular na versão de Florence and the Machine, hoje uma artista maior que ela no cenário pop. Parece uma piscada: eu poderia ser a rainha do neosoul inglês, mas estou de boa.

E o jeito despojado, com musicalidade fácil, tem tudo a ver com o Brasil, um mercado especial para ela. Joss já veio ao país outras sete vezes - as duas últimas em São Paulo foram em junho de 2022 e abril de 2023. Mais um motivo para ter deixado o show para um horário mais cedo e descompromissado - ela mesma, provavelmente, iria preferir.

Dá agonia ver gente sentada de costas ou batendo papo alto enquanto Joss Stone encarnava Janis Joplin e jogava um girassol para a plateia de forma simpática, sem parecer cosplay de hippie. Mas essa agonia é minha, não dela.


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