Um resgate da cor à antiga Porto Alegre

Um resgate da cor à antiga Porto Alegre

No projeto "Cores da Memória", colorista restaura e devolve cores às fotografias preto e branco que fazem parte da história da Capital

Letícia Pasuch *

Foto da enchente de 1941 na Rua dos Andradas, de João Alberto Fonseca, colorizada pelo projeto Cores da Memória

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A foto é da emblemática enchente que assolou o centro de Porto Alegre em 1941. Um detalhe, porém, difere dos tantos outros registros do ocorrido encontrados nos acervos de museus e na internet: este é em cores. De forma digital, os pigmentos retornaram à fotografia de João Alberto Fonseca através do trabalho do colorista Leonardo Silva Ramos, de 47 anos, idealizador do projeto “Cores da Memória”.

Leonardo trabalha como designer gráfico. Em 2018, por curiosidade, decidiu se aperfeiçoar em trabalhos de pós-restauração e colorização de fotografias. Já acompanhava na internet projetos semelhantes, mas eram apenas com fotos de guerras e de países do exterior. Para diferenciar, ele escolheu se dedicar às fotos locais, que contavam a história de Porto Alegre e de outras cidades do estado. Encontrou um grande acervo de registros preto e branco em acervos de museus. 

Depois de colorir a da enchente na rua dos Andradas, tantas outras fotografias receberam os pigmentos que buscam ser os mais fiéis possíveis às cores da época. Todos esses registros estão reunidos em uma página no Instagram e no Facebook, acompanhados de um contexto histórico da fotografia, que Leonardo constrói através de uma busca na internet. “O meu objetivo é fazer o resgate histórico da foto pela cor”, resume o colorista.

A regra é pegar apenas fotos que dê para creditar, e elas precisam estar em uma qualidade razoável. O trabalho de restauração, limpeza e colorização, conta Leonardo, é inteiramente digital. Os programas e softwares para a técnica são variados, mas ele utiliza principalmente o Photoshop. “Uso também outros programas para aumentar a resolução, a qualidade, um ou outro programa para aumentar o foco. Mas para a cor e restauração, o Photoshop”, explica. 

“A primeira coisa que faço é ver a questão da qualidade e do foco. Ajeitando isso, depois é restaurar manchas e cortes, já que às vezes falta um pedaço da foto. Depois da parte da restauração, começa a cor”, pontua. Para a cor, ele inicia sempre do último plano da fotografia para o primeiro, como do céu às casas mais distantes, por exemplo. Finalmente, os acertos nos tons, sempre acompanhando a quantidade de luz que está no céu para equilibrar com o tom do restante da foto. De acordo com o colorista, o trabalho em cada fotografia dura em torno de duas horas. Mas, dependendo da complexidade, pode levar até três dias.

Para encontrar as fotos, Leonardo entra em contato com várias instituições que guardam um acervo fotográfico. Recebe, principalmente, fotos do Museu de Porto Alegre, que carrega um grande compilado. Algumas coleções pessoais também chegam até ele. A cor traz elementos que o preto e branco, muitas vezes, não consegue alcançar. Uma das fotos, Leonardo lembra, era de Júlio de Castilhos sentado. No processo de colorir, foi possível enxergar um laço no sapato dele, comum de se usar à época. Em fotos de multidões, na ampliação é corriqueiro encontrar uma pessoa em alguma situação inusitada, ele conta.

Histórias por trás das fotos antigas são muitas. Depois da colorização, podem surgir mais. “Em uma foto que eu fiz da Faculdade de Direito, no prédio que existe até hoje na UFRGS, muita gente me procurou, desde alunos que estão lá agora até os que já são formados há muito tempo, e me contaram a história e relação deles com o local”, lembra Leonardo, que enxerga o orgulho carregado por terem estudado no prédio.

O colorista diz que o retorno de quem acompanha a página é grande. “As pessoas gostam de contar a sua participação ou seu convívio naquele local, de relembrar como foi viver nele”. Com as cores, a visualização das arquiteturas, ruas e espaços do passado fica mais clara. A foto colorida aproxima quem vive no presente àquele local do passado, e traz a sensação de ter passado pelo cenário que ficou na história. Leonardo acrescenta que o bairrismo também acentua o apreço pelos registros locais e o retorno do resgate da cidade, além da comparação de uma Porto Alegre do passado com a atual.

* Sob a supervisão de Luiz Gonzaga Lopes


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