Uma literatura de resistência da cultura kaingang na FiliGram
Escritor Cacique Maurício lançou a obra “A Araucária e a Gralha Azul: Uma História dos Antigos Kaingang” neste sábado
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Com auditório cheio de olhares curiosos, o Festival Internacional Literário de Gramado (FiliGram) parou neste sábado para ver e ouvir o escritor Cacique Maurício. Ao lado de Mauren Veras, ilustradora, e Ana Fonseca e Carolina Costa, facilitadores do processo, o indígena lançou o livro “A Araucária e a Gralha Azul: Uma História dos Antigos Kaingang” (Editora Libretos), uma história infantil em versão bilíngue (Português e Kaingang).
A história, direcionada ao público infantil, conta o encontro de Kysã/Lua e Krín Jé/Estrela Cadente. O cenário pe o Gufã, "um tempo muito, muito antigo, situado pouco depois da origem do mundo" - conta o pósfácio escrito pela antropóloga Ana Elisa de Castro Freitas. Ao fim da leitura, o leitor fica conhecendo sobre a origem da araucária e sua importância ao povo Kaingang.
“A proposta do livro é mudar o ponto de vista das pautas indígenas”, lembrou Maurício elencando as marcas tribais e seus significados e a ancestralidade. Essas temáticas são abordadas tanto na história como nos desenhos que estampam a obra, assinada por Mauren Veras. “As ilustrações foram inspiradas nos desenhos do Cacique que estarão na próxima edição do livro”, lembrou.
Lançamento do livro “A Araucária e a Gralha Azul: Uma História dos Antigos Kaingang”, na @FiliGram2022. Cacique Maurício, um dos autores, faz a leitura bilíngue da obra infantil. pic.twitter.com/Kex4wsQUIm
— Brenda Fernández (@acentonoA) September 10, 2022
A segunda edição do livro deve sair ainda nas próximas semanas, só que agora em versão trilíngue - com o acréscimo do inglês. A ideia, conforme contou o escritor, é que a obra chegue ao maior número de leitores e ambientes escolares, incluindo as escolas indígenas.
“Uma história que traz todo o conceito do respeito, das considerações de não ser levado em caminhos errados. Está aí para ser estudada e ensinada às crianças e pra quem quiser conhecer a cultura Kaingang”, contou o Cacique.
Além de alçar voos a múltiplos idiomas, a história também será adaptada a uma nova linguagem: o teatro. A combinação com a artista que deve tomar frente da produção está avançada, conforme o escritor. “Ela só estava esperando o livro sair para ler e fazer as adaptações.”
A atividade integrou a programação do eixo Polaroid, responsável por abordar temas de sustentabilidade e diversidade no Brasil atual. Para a curadora do eixo Ana Paula Marcante, a questão indígena é urgente. “É importante que as pessoas saibam que existe uma aldeia indígena super próxima da gente. Precisamos preservar isso", destacou se referindo à Canela, onde está situada a aldeia Kaingang em que vive o escritor. Tomara que nos próximos anos possamos continuar falando sobre isso só que de uma forma esperançosa”, pontuou.
Foto: Dinarci Borges / FiliGram / Divulgação / CP