Vencedor de Jabuti ministra oficina sobre escrita de romance

Vencedor de Jabuti ministra oficina sobre escrita de romance

José Castello pretende analisar trechos do mais recente livro, "Ribamar"

Luiz Gonzaga / Correio do Povo

José Castello pretende analisar trechos do mais recente livro

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O jornalista e escritor carioca José Castello, radicado em Curitiba, estará na 57ª Feira do Livro a partir desta quarta-feira, ministrando a oficina “Os Bastidores de Ribamar – Como Nasce um Romance?”. Castello é o vencedor deste ano da categoria romance do Prêmio Jabuti, a maior distinção literária do País, com a obra “Ribamar” (Bertrand Brasil). O livro aborda a relação do personagem principal, José, com o pai Ribamar, baseada em “Carta ao Pai”, de Franz Kafka, e traz a composição da partitura de uma música no início de cada capítulo.

A oficina de Castello terá três módulos, de quarta a sexta, às 16h30min, na Sala de Pesquisa do Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo ( rua dos Andradas, 1223, 2º andar).

Informações sobre as oficinas no site www.feiradolivro-poa.com.br ou no balcão de informações da Feira, na Praça da Alfândega. Na sexta-feira, às 18h30min, ele capricha nas dedicatórias para os leitores de “Ribamar”, na Praça de Autógrafos. Em entrevista ao Correio do Povo, Castello fala do segredo por trás do sucesso de “Ribamar”, do seu conceito de ficção, da crítica literária, das oficinas na Feira e da sua paixão pelo evento literário gaúcho.

Correio do Povo – Qual o segredo do sucesso de “Ribamar” entre os leitores, críticas e jurados de premiações de literatura?
José Castello – Eu trabalhei neste romance durante quatro anos e meio. Nos três primeiros anos, escrevi muito às cegas, não sabia muito bem o que eu queria. Para mim, ficção parte de obsessões, que no caso era o “Carta ao Pai”, do Kafka (Franz). Como eu não sabia se seria um livro, passei a anotar ideias, pensamentos, sonhos em torno destas obsessões. Só cheguei ao “Ribamar” por causa da canção de ninar “Cala a Boca” que minha mãe, Lucy, começou a cantar um dia e ela me disse que era a música que meu pai, José Ribamar, cantava para que eu dormisse. Anotei a letra, decorei a melodia, cantei para o meu irmão Marcos, que toca violão e ele me mandou a partitura. O que fiz foi encaixar os textos na partitura. Se não fosse o resultado da escuta desse acaso, eu não teria o livro.


Correio do Povo – O livro trata em linhas gerais da resolução da relação entre pai e filho. Há algo de real nesta história, da relação com o seu pai?
José Castello –
Meu pai faleceu em 1986. O narrador é José e o pai dele, Ribamar. É evidente que parti de memórias para recriar uma relação entre pai e filho, mas alguns acreditam que passagens do livro como o José dando banho no pai são reais. Não. Isto não aconteceu na minha vida. Os nomes dos personagens e a construção da narrativa só aumentam a carga de ambigiidade do livro. O livro é transgênico. Eu trafego entre vários gêneros, desde o relato de viagem (Parnaíba) até o livro falso de memórias – recriadas – ou o ensaio da relação entre Kafka e o pai Hermann.

Correio do Povo – O que você deve trabalhar na oficina “Os Bastidores de Ribamar – Como Nasce um Romance?” durante a Feira?
José Castello –
Pretendo, a partir da leitura de pequenos trechos do livro, revelar como cheguei a eles e também passar um pouco o meu conceito de ficção. A ficção não é a realidade, ela é contorção, deslocamento, transformação. A nova geração de escritores e também de leitores voltou a acreditar demais na realidade. É muito conservadora esta visão muito realista da ficção. Os grandes escritores, como Guimarães Rosa e Clarice Lispector, sempre transformaram a realidade, estiveram na fronteira com o real, mas observando a realidade à beira do abismo. Os escritores mais jovens veem uma mesa e descrevem a mesa, os grandes escritores vão para a ponta da mesa e se deparam com o abismo, tem outra forma de se relacionar com o real.

Correio do Povo – Você não aceita ser chamado de crítico literário, mas é reconhecido como tal. Qual a sua atual análise da crítica literária?
José Castello –
Com a criação das faculdades de Letras nos anos 70 (antes eram vinculadas à Filosofia e Ciências Humanas), a teoria literária entrou com toda força e a crítica adquiriu um ar de ciência e se afastou da produção contemporânea. Nos anos 90, o jornalismo literário ganhou força, mas neste século XXI os cadernos de cultura continuam fortes, mas a literatura perdeu espaço. Todos me chamam de crítico literário, mas o que faço é igual a um relato de viagem. Eu leio o livro e conto esta minha travessia pela obra em primeira pessoa. Se isto é crítica, então sou um crítico.

Correio do Povo – Você venceu o Prêmio Jabuti e é finalista do Portugal Telecom. Qual a importância dos prêmios para a carreira literária de um autor?
José Castello –
Os prêmios são uma realidade internacional. Estes dias recebi um e-mail de um amigo que tem um contato com um editor na Inglaterra e ele pediu para ler “Ribamar”, pois soube que recebi o Jabuti. Os editores querem saber que livros ganham prêmios, pois não querem arriscar.

Correio do Povo – E a Feira de Porto Alegre?
José Castello –
Acho fantástica. É o principal evento literário do país, pois é na praça, é integrado à cidade. É informal. As Bienais do Livro são muito protocolares. Eu adoro ir a esta Feira.

Correio do Povo – Para finalizar, que livros você indica ao leitor gaúcho?
José Castello –
Eu indico três livros. O primeiro é um concorrente meu no Portugal Telecom: “Em Trânsito”, de Alberto Martins (Companhia das Letras). É um livro de poemas dos mais lindos que eu já li. O segundo é “Uma Duas”, de Eliane Brum (Leya). Ela é uma repórter de primeiríssima qualidade e uma grande ficcionista. O terceiro é “Uma Viagem à Índia”, do Gonçalo Tavares (Leya). Ele é o grande nome da literatura em língua portuguesa da última década. Sou grande admirador dele. Sempre indico às pessoas ou dou de presente livros dele para os meus amigos. Ele tem uma visão acima da média.



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