Versão feminina de "Caça-Fantasmas" cria polêmica sexista em Hollywood

Versão feminina de "Caça-Fantasmas" cria polêmica sexista em Hollywood

Filme estreia em julho, mas debate começou após repercussão do trailer

AFP

Nova versão estreia 32 anos depois do filme original

publicidade

A nova versão do filme "Caça-Fantasmas", com protagonistas exclusivamente femininas, estreia apenas em julho, mas já provocou uma forte reação na internet e voltou a jogar foco sobre o problema da discriminação em Hollywood. O primeiro trailer do longa se tornou o vídeo mais criticado da história do YouTube, com 900.000 "dislikes", ao mesmo tempo que o diretor Paul Feig e o elenco receberam ameaças de morte e comentários misóginos nas redes sociais.

"Este lixo foi feito apenas para agradar as feminazis", escreveu um internauta no Twitter, em um dos comentários típicos da chuva de insultos contra as pessoas relacionadas ao filme. Feig, que ganhou fama ao dirigir atrizes em sucessos como "Missão Madrinha de Casamento" e "A Espiã Que Sabia de Menos", foi o responsável por selecionar Kate McKinnon, Melissa McCarthy, Leslie Jones e Kristen Wiig como protagonistas da nova versão, que chega aos cinemas 32 anos depois do original estrelado apenas por homens.

"Ouvi os piores insultos misóginos nos últimos dois anos", contou o diretor em uma conferência de produtores na sede da Sony Pictures, na Califórnia. "O ataque que recebemos tem sido muito assustador", comentou.

O blog "Woman and Hollywood" registrou uma reação similar depois que os produtores do filme mais recente da saga "Star Wars" anunciaram protagonistas femininas, após seis longas-metragens com homens nos papéis principais. "Lutamos todos os dias para combater o preconceito. A imprensa ainda chama de 'filme rosa'", disse o cineasta.

"Um mundo masculino"

A reação contra "Caça-Fantasmas" demonstra como está arraigada a ideia de que filmes de grande orçamento são um "mundo masculino", destaca Martha Lauzen, do Centro de Estudos das Mulheres na Televisão e Cinema, da Universidade Estadual de San Diego. "Tradicionalmente apresentaram homens como protagonistas, produzidos por homens, pensando em um público de homens jovens", explica. 

"Além disso, a maioria dos críticos que avaliam estes filmes é de homens", completa. E segue: "Fazer uma nova versão de um destes filmes com um elenco majoritariamente feminino viola o sentimento de que este espaço público pertence a eles".

Apenas 9% dos diretores e 11% dos roteiristas que trabalham nos 250 filmes americanos que mais faturaram na bilheteria em 2015 eram mulheres, segundo um estudo de Lauzen. O efeito colateral da realidade é o menor número de papéis femininos com certa profundidade ou interesse nos filmes.

De 11.306 papéis no cinema e televisão em 2014 analisados pela Faculdade Annenberg de Comunicação e Jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia, dois terços eram personagens masculinos, número que se aproximava de 75% em filmes de grande bilheteria. Mas estes números sugerem que a indústria cinematográfica está cavando a própria cova. Produções com protagonistas femininas arrecadaram 3,3% a mais que as produções com protagonistas masculinos em 2014, de acordo com Stacey Smith, diretora da Iniciativa de Mudança Social, Diversidade e Meios da faculdade.

Assumir o risco

A atriz australiana Margot Robbie, de 25 anos, está ganhando reputação por escolher papéis que se afastam do clichê da mulher complacente ou tímida, como a enérgica Naomi Lapaglia em "O Lobo de Wall Street" (2013) de Martin Scorsese.  "Acredito que as pessoas finalmente estão reconhecendo que metade das vendas de ingressos vem das mulheres", afirmou a atriz em uma entrevista recente.

"E se não criam o tipo de papel com o qual as mulheres podem se identificar, elas não vão aproveitar tanto", completou. O equivalente a "Caça-Fantasmas" no cinema independente é o filme "The Fits", produção de estreia da diretora Anna Rose Holmer e que foi aclamado nos festivais de Veneza e de Sundance. O longa-metragem é resultado quase exclusivo do trabalho de mulheres, tanto por trás como diante das câmeras, e conta a história de uma menina que treina boxe com o irmão, mas que sonha em ser bailarina.

Holmer, que escreveu o roteiro em parceria com Lisa Kjerulff e Saela Davis, acredita que a discriminação na indústria cinematográfica começou a registrar uma queda. Mas em última análise, afirma, a única maneira de mudar o cenário é "contratar mulheres e investir nas mulheres, assumir o risco de ter mulheres no comando". "É muito simples e é possível", resume.

Assista ao trailer de 'Caça-Fantasmas': 


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta quarta-feira, dia 1 de maio de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895