Viagem no tempo e contos de fadas

Um transporte para outro tempo, com fantasia de clássicos e costumes antigos, mantendo elementos modernos, romance e aventura. Essa é a essência de “Perdida”, longa dirigido por Katherine Chediak Putnam, Dean Law e Luiza Shelling Tubaldini que chega nesta quinta-feira, 13, aos cinemas. 

A protagonista Sofia (Giovanna Grigio) trabalha em uma editora de livros. É moderna, independente, destemida e empoderada, mas passa longe quando se fala de relacionamentos: os únicos romances em sua vida são os do universo literário de Jane Austen (1775-1817), sua autora preferida. Ao utilizar o celular de uma desconhecida – sua sarcástica “Safada Madrinha” (Luciana Paes), ela é transportada ao século XIX no Brasil. Perdida no campanário de uma igreja, é acolhida pelo cavalheiro Ian Clarke (Bruno Montaleone). Enquanto tenta encontrar uma forma de voltar ao “mundo real”, acontecem coisas fora dos seus planos, como viver uma história de amor de verdade. No elenco, estão também Nathália Falcão, Bia Arantes, Emira Sophia e Sérgio Malheiros.

“Perdida” é adaptação do livro de mesmo nome escrito por Carina Rissi, autora brasileira que mora em Portugal. Lançado em 2013, a obra integra uma série de seis volumes – “Perdida”, “Encontrada”, “Destinado”, “Prometida”, “Desencantada” e “Indomada”. Mais de 700 mil exemplares das obras foram vendidos e publicados no Brasil e em outros países, como Portugal, Rússia, Ucrânia, Itália e França. A autora teve forte participação no roteiro do longa – escrito também por Luiza Shelling Tubaldini, Karoline Bueno, Katherine Chediak Putnam e Dean Law. Carina se diz realizada com a estreia da adaptação para o cinema. “Sinto como se fosse possível tocar com a pontinha dos dedos um sonho muito antigo”, declara. Esse não foi o primeiro livro da autora adaptado para as telas: a série “No Mundo da Luna” e o filme “Procura-se”, ambos de 2022, estão na HBO Max.

O longa vai do cômico ao drama, com momentos engraçados e também românticos. As cenas e paisagens parecem ter saído de livros clássicos e até de contos de fadas, e se assemelham ao universo e da época das histórias de Jane Austen – como em “Orgulho e Preconceito” (2005), justamente onde o romance faz sentido para Sofia. No ambiente campestre da cena, predominam casarões de época, florestas, cavalos e cânions. As cenas foram gravadas no Rio de Janeiro e em São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul. Os figurinos de Joanna Ribas são de outro tempo: vestidos longos e rodados, corsets, babados, espartilhos, mangas gigot, chapéus. Mais de meia tonelada das peças veio de acervos europeus. Destoa o figurino moderno de Sofia, com jaqueta de couro e tênis All Star.

Mais do que falar sobre histórias de literatura clássica e reencontro no amor, “Perdida” provoca reflexões ao mostrar a Sofia fora dos padrões do século XIX em meio a costumes antigos e modos da época – quando as mulheres possuíam pouco poder, influência e liberdade. A personagem acaba até influenciando outras mulheres em cena a se empoderar, e enfrentar o machismo da época – o que a autora Carine diz ter se inspirado na escritora inglesa. “Jane Austen e tantas outras mulheres de coragem não se conformaram com o papel a elas dado na época. Ela me inspira dentro e fora da escrita”, diz. Sobre uma possível sequência, a autora se encontra esperançosa. “Eu estaria mentindo se não dissesse que já sonho com as sequências.”

* Supervisão Luiz G. Lopes