Como promover a educação financeira em casa para filhos de qualquer idade

Como promover a educação financeira em casa para filhos de qualquer idade

Um guia completo para estimular crianças e adolescentes a lidarem com dinheiro

Camila Saccomori / Especial

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“Compra pra mim?”. Desde que aprendeu a contar de 1 a 10, Izabella ouve da mãe uma pergunta matemática que muitos adultos ignoram no próprio dia a dia. Aquela continha capciosa para saber se um produto é barato ou caro, cuja resposta varia para cada família.

“Peço para ela anotar o valor do que pediu, digo meu salário e calculamos quanto recebo por hora. Aí descobrimos quantas horas é preciso trabalhar para comprar o que ela quer. Estratégia infalível”, conta a farmacêutica Gabriela Gonçalves da Silva, a mãe da Iza, que agora aos 11 anos já sabe na ponta da língua dimensionar se o pedido ultrapassa o razoável.


Gabriela Gonçalves e Iza | Foto: Camila Saccomori / Especial / CP

Assim como Gabriela, outros pais e mães sabem que o melhor momento de apresentar a educação financeira em casa é na infância. Quanto mais cedo começar, mais significativos serão os resultados alcançados. Mas assim como sobram boas intenções, faltam ferramentas para colocá-las em prática. É que ser educado financeiramente não significa dominar conceitos como juros ou inflação, e sim ter comportamentos economicamente saudáveis.

Considerando que seis em cada 10 pais, quando eram crianças, nunca tiveram nenhuma conversa sobre o tema “finanças” com seus próprios pais, como apontou recente pesquisa da Serasa/Opinion Box, realizada em setembro de 2023, fica difícil ensinar aquilo que não se aprendeu. Em um país com alto índice de endividamento, ignorar o gerenciamento do dinheiro agrava as desigualdades sociais. 

Incentivar que os filhos sejam conscientes, portanto, não é modismo, e sim questão de cidadania. E também de saúde mental: dívidas e orçamento apertado causam o chamado “estresse financeiro”, situação que tira o sono de seis em cada 10 brasileiros, segundo estudo do Datafolha e Abima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).

De tão essencial, educação financeira virou ensino obrigatório nas escolas, instituído pela Base Nacional Comum Curricular, em todo o Ensino Fundamental. E não se resume à disciplina de matemática, a que seria mais óbvia. É um tema transversal, ou seja, envolve todas as outras áreas (do colégio e da vida). Em Português, por exemplo, os educadores trarão fábulas como “A cigarra e a formiga” nos anos iniciais. Nos anos seguintes, as relações econômicas e sociais de diferentes povos e culturas são um prato cheio para História e Geografia. 

Se você chegou até aqui é porque o assunto fez sentido para sua realidade. Então, respire fundo e siga adiante: o objetivo desta reportagem é colaborar com famílias de crianças e adolescentes de todas as idades. No entanto, cabe um alerta: se uma única aula fosse suficiente para nossos filhos aprenderem educação financeira, nem estaríamos aqui conversando. Este é um caminho composto de várias ruas nem sempre em linha reta (algumas sem saída). Compartilhamos agora os atalhos para ir além do básico “dinheiro não dá em árvore” ou “na volta a gente compra”.

Comece pelo comportamento hoje mesmo

O primeiro ponto parece óbvio, mas precisa ser dito: o simples ato de dar mesada não é educação financeira. Dinheiro na mão de criança só funciona se vier acompanhado de conversas e orientações no dia a dia. O comportamento é muito mais importante do que qualquer presente caro em datas comemorativas — ou fora delas. Porém, as novas gerações enfrentam um desafio maior do que os adultos das gerações X (nascidos entre 1965 e 1984) ou Y (de 1985 a 1999) vivenciaram. 

“Éramos mais pacientes, pois as coisas tinham um tempo para acontecer. Esperar a carta chegar, aguardar o filme passar na TV ou a música tocar no rádio. Hoje o mundo é on-demand, com pais on-demand, e esse atendimento imediato aos desejos dos nossos filhos cobra seu preço”,  analisa Patrícia Palermo, economista-chefe da Fecomércio-RS, que entende do assunto não só pelo posto que ocupa, mas por exercitar na prática com a filha Vitória, hoje com 13 anos.

Esse senso de rapidez prejudica o planejamento financeiro: quando há pressa, a pessoa escolhe o “eu do presente”, sacrificando o “eu do futuro”. Esta é uma linguagem acessível, inclusive, para você mostrar à criança os reflexos do comportamento na própria linha do tempo, indica a economista.

A maior lição, portanto, que pais e mães podem se dedicar a deixar aos seus filhos é treinar a espera. E mostrar que a espera pode premiar. Não é exatamente isso que os juros fazem quando você tem um investimento no banco? Encontrar maneiras de fazer as crianças cultivarem a paciência dá frutos. 

Santo de casa, afinal, também faz milagre, e Patrícia mostra à reportagem um vídeo de Vitória com 3 anos à caça de interruptores pela casa repetindo um mantra: "Luz que Vitória apaga, mamãe não paga". É que quando as crianças são muito pequenas, cédulas e cartões não fazem sentido, então você busca a concretude, como a energia elétrica, as refeições em família e a ida ao supermercado. Veja dois exemplos práticos que Patrícia sempre praticou com a filha:

1) Jogo do carrinho 

Oportunidade de explicar o que é necessário versus o que é supérfluo. Pegue o carrinho de dois andares no supermercado. Na parte de cima, coloque só o que está na lista de compras: feijão, arroz, papel higiênico etc. Na parte de baixo, os produtos aleatórios que vão surgindo por impulso na caminhada pelos corredores. Chegando ao caixa, leve só o que está na parte de cima. Repita a operação (quando possível e necessário). 

2) Jogo do prato limpo

Em casa ou no restaurante, permita que a criança se sirva com um pouco de cada comida, mas antes explique que tudo que ela colocar no prato ela irá consumir. Não se trata de forçar a comer tudo, e sim que ela entenda a relação direta entre seus atos e o desperdício. Mostre que o alimento que ficou no prato irá para o lixo, deixando de alimentar outras pessoas. Repita a operação (quando possível e necessário). 

Deixe a criança errar ao gastar a mesada

A essa altura do campeonato você já entendeu que educar pelo exemplo é essencial. De tanto encontrar famílias que nem sabiam por onde começar a poupar, o educador financeiro Thiago Godoy criou a persona “Papai Financeiro” na internet para dar dicas acessíveis. E desde que nasceu a primeira filha, Angelina, agora com 2 anos e quatro meses, sentiu a responsabilidade dobrar. Sabe que cada passo irá inspirar a menina — e cada palavra também.

“Criança é ser humano em construção, e os filhos captam desde o que é falado até o que é feito. Se os pais repetem frases como “rico não vai para o céu”, aquilo fica internalizado. Da mesma forma quando a família vive no aperto, vive no caos o tempo todo, mas esbanja se entra uma quantia inesperada. Filho precisa da sensação de segurança e previsibilidade de rotina, principalmente a financeira”, explica Thiago.

Esta rotina também inclui a constância da mesada, em valor que seja adequado à sua realidade. Aí entram dois tipos de combinações: primeiro, é preciso se comprometer a dar a mesada com regras. Não adianta, por exemplo, dar R$ 50 neste mês e no seguinte nada. O segundo ponto é não ficar complementando a toda hora, indica Thiago, autor do best-seller “Emoções Financeiras”.

“Os pais dão a mesada, a criança gasta em 5 dias, pede mais e acaba ganhando o que pediu. Deixar a criança errar ao gastar o próprio dinheiro é o mais importante. Lembre sempre de que a mesada é uma ferramenta que precisa estar aliada à educação financeira. Sozinha, não funciona”, alerta.

E aí, está mais confiante para continuar a missão? É preciso mesmo uma série de pequenos hábitos incorporados ao dia a dia para dar certo. Ninguém solta a mão de ninguém, então na sequência da reportagem, trazemos orientações práticas para cada faixa etária, além de histórias de inspiração de crianças e adolescentes. No final, um listão de livros e jogos para aprender brincando, pois tudo que é ensinado de forma lúdica permanece por mais tempo.

Educação financeira em números

• 7 em cada 10 brasileiros gastam todo ou mais dinheiro do que ganham.
Fonte: Banco Central e Federação Brasileira de Bancos (Febraban)

• Só 21% das pessoas tiveram educação financeira até os 12 anos de idade.
Fonte: pesquisa do C6 Bank realizada pelo Ibope (2020)

• 3 em cada 4 brasileiros apontam o dinheiro como sua principal preocupação pessoal.
Fonte: pesquisa da fintech Onze

• 47% da geração Z (jovens de 18 a 24 anos) não consegue realizar o controle de suas finanças.
Fonte: pesquisa da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) 

• Para os pais, falar de dinheiro com os filhos é um tema tão difícil quanto educação sexual.
Fonte: pesquisa “Pais, filhos & uma visão geral sobre o dinheiro”, da  T. Rowe Price

• 61% dos pais não dão mesada aos filhos
Fonte: Serasa e instituto de pesquisa Opinion Box (2023)

Aprender sobre dinheirinhos dentro do carrinho

Criança e supermercado combinam? Existem duas respostas possíveis. Quem vai às compras sem os filhos sabe que é mais fácil e rápido. Porém, este é um dos melhores cenários para ensinar educação financeira. E o melhor é começar desde cedo, como mostra a arquiteta Joana Feijó. A filha Julia, de 4 anos, é companhia constante. Já chega ao mercado esticando os braços para subir no carrinho. Quando pede algum produto, geralmente Kinder Ovo, a mãe reforça que o chocolate “custa dinheirinhos” e que, para levar tudo que a família precisa, o doce vai ficar de fora.

“Explico que temos que levar pão para o café da manhã, massa para o almoço e que tudo isso custa dinheirinhos. Jamais diria que esqueci o cartão, por exemplo, e que não consigo comprar. É muito mais trabalhoso conversar? Com certeza. Mas assim ela já está internalizando que precisamos fazer escolhas”, explica Joana.

Além do supermercado, a cena se repete em outras programações que estimulam o consumo. Aquele balão durante o passeio no parque ou o picolé do carrinho estrategicamente posicionado na saída da escolinha também recebem a mesma explicação paciente.

“Pergunto se não seria melhor guardar os dinheirinhos para outra coisa que deseja mais, em outro momento. Com calma ela vai entendendo. É legal ir criando a consciência de que pode e deve fazer escolhas, desde pequena. Quero que a Ju tenha uma relação bacana com o dinheiro”, conclui.

Tablet em parcelas descontadas da mesada

“Percebi que em algum momento da minha vida eu não iria mais ter meus pais a toda hora comprando coisas para mim, então decidi começar agora para me acostumar”.

A frase acima não partiu de um jovem de 20 ou 30 anos, e sim da Maria Luiza, de 10 anos, que já poupa há um tempinho e recebe educação financeira “desde a barriga”, como contam os pais. Falar sobre o assunto sempre foi uma prática do casal Patrícia Thiesen, administradora de empresas, e Leandro Tonello, engenheiro mecânico. As avós de Malu volta e meia presenteiam a neta com dinheiro, então era preciso orientar sobre formas de usá-lo.

Quando surgiu o desejo de ter um tablet, os pais sinalizaram que o presente não viria em nenhuma data comemorativa próxima. Então usar o próprio dinheiro foi a combinação que deu certo — hoje Malu ainda está pagando em “suaves prestações” o eletrônico, descontado da mesada de R$ 100. Qualquer grana extra é direcionada a aplicação em investimentos, ensinada de forma simplificada, e que a própria menina monitora na conta digital, com o cartão bem guardado na carteira com estampa de gatinho.

Mãe e pai tiveram criações diferentes, ela com família mais consumista, ele de perfil conservador. Quando casaram, Patrícia e Leandro passaram a anotar todos os gastos em uma planilha compartilhada detalhadamente: o hábito de andar com notinhas e recibos inclusive de pequenos valores chama a atenção até de amigos. O comportamento serve de exemplo para a filha:

“Queremos que ela tenha uma boa relação com dinheiro, que saiba equilibrar e não seja dos extremos, nem de poupar nem de gastar tudo. Sabemos que ela começou a ter noção do que comprar e a valorizar cada R$ 1”, conta Leandro.


Patrícia Thiesen e Leandro Tonello, pais de Maria Luiza | Foto: Camila Saccomori / Especial / CP

Games usados vendidos para financiar novos

Como todo bom fã de videogame, Samuel gosta de acompanhar novidades do mundo dos jogos e dicas para melhorar a experiência. Certo dia, na pandemia, vendo o conteúdo de um youtuber, ouviu um comentário sobre organização de dinheiro para ter mais games. Dali veio o estalo para aprender sobre o assunto. Buscou vídeos sobre educação financeira no próprio YouTube e entendeu que podia participar deste “jogo” de consumo.

“Lembro que na época era difícil visualizar como as pessoas monitoravam seu dinheiro. Hoje já entendi e gosto de olhar o saldo, tudo o que entra e o que sai”, conta Samuca, de 12 anos, que antes anotava em papel e agora tem uma conta digital para fazer Pix e receber valores.

Os pagamentos recebidos vêm da mesada dos pais e de itens usados que Samuca vende. Quando “zera” um jogo do PS3, por exemplo, indo até o fim das fases, o garoto anuncia na internet, geralmente no Marketplace do Facebook. Comemora que certa vez vendeu 10 jogos de uma vez e recebeu R$ 250, sua maior venda. Com a grana comprou um novo joystick e autobiografia de J. R. R. Tolkien. Também já vendeu livros usados da infância pelo Estante Virtual. 

A mãe, a funcionária pública Semadar Marques, elogia o empreendedorismo do filho, que questiona preços e negocia valores. Não só nos sites como ao vivo, no camelódromo onde vai toda sexta-feira com o pai, o gerente de vendas Alex Gomes, no intervalo do trabalho. Lá o objetivo é aumentar a coleção de jogos antigos, como os cartuchos de SuperNintendo, Star Wars e Fifa 99 que mostra com orgulho. Como lição, compartilha aprendizados importantes para quem também quer se aventurar: 

“Uma vez comprei um jogo por impulsividade, estava R$ 30, mas joguei e não gostei. Fiquei bem arrependido. Aprendi que antes de comprar tenho que pesquisar para ver se é bom. Outra coisa é entender que os influencers ganham dinheiro para falar bem dos jogos que estão sendo lançados. Então espero mais reviews para descobrir se vou curtir”.

Samuel, 12 anos | Foto: Camila Saccomori / Especial

Marmitas diárias em troca de uma bateria

Na noite de Natal dos seus 3 anos de idade, Cristopher Mariath ganhou um voucher. Em vez de rasgar papéis desembrulhando presentes, recebeu um papel como promessa de presente. É que os pais — o analista de sistemas Vitor Mariath e a gerente de negócios Anelice Mariath — iriam levá-lo para a Disney pela primeira vez, no aniversário de 4 anos, cinco meses após o Natal. Lá ele poderia escolher um baita brinquedo, mas a lição mais importante não eram os Power Rangers ou Imaginext de primeira linha, e sim aprender a esperar.

“Antes de ser pai, sempre achei feio criança fazendo escândalo quando não ganhava o que queria. Eu refletia em como faria para levar meu filho a qualquer lugar, como uma loja de brinquedo, e que ele soubesse se comportar”, explica Vitor.

Deu tão certo a estratégia que acabou sendo repetida pelos 9 anos seguintes, com outros destinos no radar da família e o pequeno Cris carregando nas mãozinhas outros 9 vouchers a médio prazo. Hoje, aos 16 anos, olhando para trás, o jovem lembra que no começo achava abstrato, mas um dia entendeu que a recompensa sempre chegava.

“Eu tinha que acreditar que o papel valia algo (risos). Ficou como lição controlar a impulsividade: não recebia nada na hora, mas o que viria depois seria melhor”, conta o adolescente.

Também ao longo dos anos, a família fez outros “testes” para ensinar sobre dinheiro. Como uma tabela em que propunha pequenas tarefas da casa que seriam remuneradas, como molhar as plantas ou colocar as roupas para lavar na máquina. “Não deu certo”, na opinião de todos, porque “o ticket baixo não engajava”, avalia o pai, além da necessidade de microgerenciamento.

Com este histórico, fica fácil entender o auge da educação financeira ali. Cristopher sempre sonhou em tocar um instrumento. Quando testou uma bateria eletrônica pela primeira vez, se apaixonou. Aos 14 anos, decidiu que queria uma para chamar de sua. Ganhar estava fora de cogitação, então o pai pediu para o filho montar um “plano de ação”. Juntos, desenharam uma forma de pagamento: em vez de almoçar todos os dias no colégio, o valor seria usado para bancar o instrumento. 

Obviamente o jovem topou na hora, depois se deu conta: o que iria comer? Ouviu o famoso “te vira”, que toda família em algum momento acaba dizendo, no intuito de estimular autonomia. E assim Cristopher começou a levar marmitas para o colégio. Mas ninguém iria especialmente cozinhar nada: ele tinha que ser responsável pelo que levaria, separar o que tivesse da janta da noite anterior ou montar um sanduíche. 

“Já que eu estava passando trabalho, decidi que todo dia iria tocar bateria, para fazer valer o esforço, de uma a três horas por dia. Me deu motivação para não desistir”, recorda.

Nove meses depois, desde junho de 2022 carrega no bolso o papel assinado como recibo de pagamento, com orgulho e com outros efeitos colaterais: toca bateria muitíssimo bem, perdeu uns quilos extras e inspirou outros colegas a levarem marmitas também.


Cristopher Mariath, 16 anos | Foto: Camila Saccomori / Especial / CP

Como estimular em casa: ideias para cada faixa etária

Na teoria, a educação financeira é uma coisa. Na prática, é outra. Aqui trazemos teoria e prática para você, adulto, se engajar com os filhos de qualquer idade em casa. Estas dicas foram adaptadas a partir da leitura dos livros didáticos das escolas públicas brasileiras, disponíveis gratuitamente no site pedagógico do Ministério da Educação feito pela Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). 

De 5 a 7 anos (1º ano Ensino Fundamental)

◾ Teoria: noções de desperdício, consumo e lixo seletivo + estimular a questão temporal e a espera.

◾ Prática: repita aquele exercício da sua infância de plantar o feijão no algodão em um copinho e esperar germinar. Pois muita coisa na vida precisa ser cuidada por um tempo para florescer e ser usufruída. O feijão ensina disciplina. Esta idade é boa para conversar sobre o meio ambiente e a separação do lixo (o que pode ser reciclado ou não), introduzindo a noção de finitude dos recursos naturais.

Também funciona desconstruir desde cedo o “efeito posse”: mostrar como pode ser bom aliviar o armário para entrarem novas coisas. Para evitar o consumismo, que tal adotar a política do “entrou um, sai um”? Serve desde brinquedos a pares de sapato. Doar aquilo que não serve ou não se usa mais (alô, pais, é preciso dar o exemplo), explicando que terá serventia para outras pessoas.

De 6 a 8 anos (2º ano Ensino Fundamental)

◾ Teoria: noções de preço, custos, lucro e perda.

◾ Prática: na saída do supermercado, pegue um encarte de ofertas e leve para casa, para decidir uma receita a ser feita em família. Quais ingredientes vão ser comprados na próxima ida? Faça a lista de compras apontando à criança as quantidades necessárias. No dia do preparo, oriente sobre como fazer e a importância de seguir os passos da receita na ordem correta. Isso permite ver que cada orientação corresponde a uma ação. Na nota fiscal, veja quanto se gastou para fazer a receita (não compre outros itens junto). Em quantos pedaços iguais poderá ser dividida? Qual o preço final? Houve alguma perda financeira, como algum ovo que caiu no chão, por exemplo?

De 7 a 9 anos (3º ano Ensino Fundamental)

◾ Teoria: formação de hábitos e atitudes financeiras positivas.

◾ Prática: você pode conversar sobre as despesas da casa, de forma simplificada. Quais são os serviços pagos e o que ocorre quando não há o pagamento dessas despesas? Fale sobre o plano de saúde, o aluguel da casa, a conta de internet. Conte o total de aparelhos que usam energia elétrica em cada peça da casa, por exemplo. Que ações geram gastos com luz, água e gás? Destaque quais ações podem poupar estes recursos.

Também é hora de incluir a criança nas atividades de organização em casa, caso ainda não existam. Isso contribui para a formação de hábitos e atitudes financeiras positivas, pois a pessoa organizada (que classifica e guarda suas contas em ordem) terá mais controle sobre sua vida financeira e poderá realizar seus sonhos sem atropelos.

De 8 a 10 anos (4º ano Ensino Fundamental)

◾ Teoria: importância dos pequenos valores + o papel da publicidade induzindo compras.

◾ Prática: o valor do dinheiro é subjetivo. As pessoas compram e vendem coisas que têm valor para elas, não só o monetário, e sim o sentimental. Tipo aquele ursinho de pelúcia que você dorme todas as noites e não venderia por nenhum $ no mundo. Existe ainda o valor do mercado publicitário: converse com seu filho sobre aquele tênis de marca famosa que é bem mais caro do que os outros. Explique que muitas vezes as pessoas desejam e consomem produtos de marcas famosas para serem aceitas em grupos ou se destacarem na turma.

Estimule a criança a fazer leitura crítica das propagandas, que geram desejo de consumir (aproveite o intervalo comercial do programa de TV). Caso a criança use YouTube ou Instagram, pergunte sobre anúncios que já viu e como isso a impactou. De volta ao encarte de supermercado, mostre que há preços sinalizados com 99 centavos no final. Mostre que R$ 4,99 parecem R$ 4, mas na verdade são R$ 5. Isso é uma estratégia de marketing do comércio, pois temos a tendência de ler só o que vem antes da vírgula e ignorar os centavos. Atenção aos pequenos valores! Somados, viram um dinheirão.

De 9 a 12 anos (5º e 6º anos Ensino Fundamental)

◾ Teoria: meio ambiente com foco no consumo sustentável + formas de pagamento existentes.

◾ Prática: o colégio irá se ocupar do conceito dos 5 “R”s (Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar), então, em casa você pode puxar conversa sobre o tema. Mostre o símbolo do reciclável em embalagens. Converse sobre a chamada “obsolescência programada”, ou seja, produtos projetados para se tornarem lixo o mais rápido possível, como garrafas pet ou embalagens de isopor, e também eletrônicos e eletrodomésticos que param funcionar após um tempo.

Em paralelo, a gurizada desta idade já compreende as formas de pagamento existentes – preço à vista ou a prazo, crédito ou débito. É um bom momento para começar a dar semanada ou mesada, desde que o filho use algum controle. Oriente a anotar todas as entradas e saídas, mantendo o saldo atualizado. Vale usar caderno, fichas ou um planner específico. 

De 11 a 13 anos (7º ano Ensino Fundamental)

◾ Teoria: conceito de estimativas + financiamentos e empréstimos.

◾ Prática: quando as pessoas da família fazem compras, elas fazem uma estimativa de quanto de arroz e feijão precisam comprar para a semana/o mês e quanto esses itens devem estar custando. Inclua os filhos neste planejamento tão importante. É ainda a oportunidade de apresentar o conceito de financiamentos e empréstimos. Se você tem imóvel nesta situação, mostre os extratos dos financiamentos com juros mais baixos que empréstimos (vale simular no seu aplicativo de banco e mostrar as taxas de juros).

Explique que isso acontece porque estão associados à compra de um bem (carro ou apartamento, por exemplo) que pode ser reavido pela instituição financeira caso não paguem as parcelas. O risco é maior para quem empresta dinheiro. Nessa idade, vários teens já estão aptos a terem contas digitais para movimentar sua própria grana. É um bom voto de confiança conforme a maturidade do seu filho observada nas etapas anteriores.

De 12 a 15 anos (8º e 9º anos Ensino Fundamental)

◾ Teoria: consolidar o que foi aprendido até aqui (poupança, consumo, planejamento) e inserir noções de empreendedorismo.

◾ Prática: o filho está querendo algo além das posses? Hora de sentar com calculadora para simular opções. O empréstimo é o mecanismo usado para ter disponível, no presente, uma quantia em dinheiro que só se conseguiria alcançar no futuro, fazendo poupança. O valor emprestado, mais os juros e encargos cobrados pela instituição financeira, vira uma dívida, que deverá ser paga na forma e no prazo combinado.

Então, a maior lição que você pode deixar para o adolescente é que ele tenha ferramentas para fazer um bom planejamento financeiro, ou seja, analisar qual é a melhor opção, se empréstimo ou poupar para comprar à vista. Nos anos finais, os adolescentes estão prontos para entender os detalhes dos investimentos (destinação do dinheiro à ampliação da riqueza do patrimônio) e muitos já estão ansiosos até para começarem a fazer isso. Veja o que funciona para a família, usando o saldo das economias do mês.

Livros, sites e jogos sobre educação financeira

Para pais e mães:

• “Dinheiro não dá em árvore: Um guia para os pais criarem filhos financeiramente responsáveis”, de Neale S. Godfrey (Jardim dos Livros, 2019): traz exercícios e exemplos concretos sobre como ensinar administração financeira;

• “Falando de grana: um guia para pais”, de Patrícia Broggi (Panda Books, 2010): dicas para orientar crianças a administrar a mesada e lidar com o consumismo adolescente;

• "Como falar de dinheiro com seu filho", Cássia D'Aquino (Saraiva, 2014): quando começar a dar mesada? Como dizer “não” aos excessos dos filhos?;

• “Educação financeira na família: como falar de dinheiro com crianças”, de Andreza Maria Neves Manfredini Tobias e Ceneide Maria de Oliveira (Roca, 2012): as psicólogas mostram quais os comportamentos que ajudam os filhos a terem saúde financeira.

Para adolescentes:

• “Boletinhos: como virar adulto sem surtar”, de Alan Soares (Ed. Seguinte, 2023): ideal para ler na época do primeiro estágio e do primeiro emprego;

• Canal do Érico Metzner no YouTube: é o mais jovem palestrante de finanças no Brasil. Já lançou três livros e um jogo. Nos vídeos, traz estratégias com atividades simples e práticas, além de foco em empreendedorismo;

• Site Tino Econômico (Editora Magia de Ler): conteúdo jornalístico para formar jovens leitores, interessados nos impactos financeiros dos fatos.

Para crianças:

A partir de 3 anos

“O bichinho tudo-é-meu”, de Letícia Ribas (Sinopsys Editora, 2019) A história do bichinho que só quer consumir ajuda a refletir sobre o que é prioridade e o que é desnecessário.

A partir de 4 anos

“Pé de Moeda”, de Ana Neila Torquato (Mais Ativos, 2021) Ao passear pelo pomar da vovó, João encontra uma moeda e imagina uma árvore diferente.

A partir de 5 anos

Banco Imobiliário (Estrela) O jogo mais clássico para ensinar sobre grana tem desde a versão Júnior, para os menores, e as mais complexas, como a edição Brasil e outras com maquininha de cartão ou realidade aumentada.

A partir de 6 anos

“Compra pra mim”, de Manuel Filho (Paulus Editora, 2010) Os sonhos de consumo do garoto João viram pesadelos na vida real.

A partir de 6 anos

“Como Se Fosse Dinheiro”, de Ruth Rocha (Salamandra, 2010) O dono da cantina da escola só dá balas de troco para os alunos e isso começa a dar problemas!

Jogo da Mesada (Estrela) Partidas de estratégia onde o vencedor é quem chega com mais $ ao final. De 2 a 6 jogadores.

O pequeno empresário (Pais & Filhos) Jogo de tabuleiro em que os participantes praticam ações como aluguéis, juros e empréstimos. De 2 a 4 jogadores.

A partir de 7 anos Dia de Mesada (Nig Brinquedos)

Jogo de tabuleiro para a criança aprender a administrar seus “dinheirinhos”, com pagamentos, custos e lucros. De 2 a 4 jogadores por vez.

De 7 a 10 anos

“Como cuidar do seu dinheiro”, de Mauricio de Sousa e Thiago Nigro (HarperCollins, 2020) A Turma da Mônica e o Primo Rico explicam às crianças vários conceitos do mundo financeiro.

De 7 anos a 12 anos

“Almanaque Maluquinho: pra que dinheiro?”, de Ziraldo (Globinho, 2017) A Turma do Menino Maluquinho tenta aprender a se virar com mesadas, despesas e compras.

“Crise financeira na floresta”, de Ana Paula Hornos (Geraçãozinha, 2015) Texto divertido faz analogia entre os animais e os conceitos financeiros de forma acessível.

Série “Banco de Histórias”, de Rafael Bicca Machado e Christian David (Editora Borunga, 2020) Valentina e sua turma protagonizam 5 histórias sobre assuntos de economia, como “Gelatina de graça” sobre custos, “O clube do hamster”, sobre regras, e “O dilema dos juros de chocolate”.

De 8 a 12 anos

"Finanças básicas para crianças: lições sobre dinheiro que toda criança deveria aprender - volumes 1 e 2", de Walter Andal (Zenith, 2022) Ensina o tema com clareza usando termos de fácil entendimento.

A partir de 9 anos

Administrando o Seu Dinheiro (Pais & Filhos) Jogo de tabuleiro em que o objetivo é juntar mais dinheiro no decorrer das rodadas. De 2 a 4 participantes.

De 9 a 12 anos

“Dinheiro compra tudo?”, de Cássia D’Aquino (Moderna, 2016) Curiosidades, desafios, dicas e até um plano de orçamento para quem ganha semanada ou mesada.


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