Conheça histórias de superação e inspiração no Dia Internacional da Mulher

Conheça histórias de superação e inspiração no Dia Internacional da Mulher

Correio do Povo escutou histórias de mulheres que superaram obstáculos em áreas dominadas pelo público masculino

Lisiane Mossmann

A cantora e professora Glau Bastos é uma das entrevistadas pelo Correio do Povo no Dia Internacional da Mulher

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Com uma carreira que se entrelaça com a cultura e a educação, a professora e cantora gaúcha Glau Barros, mulher negra de voz firme e talento incontestável, tem muito a contar sobre sua jornada de desafios e conquistas.

Sua história começa nos anos 90, quando ingressou no magistério. Desde então, ela tem trilhado um caminho marcado pela paixão pelo ensino e pelo enriquecimento cultural. Ingressou na Prefeitura de Gravataí como professora, mas foi na Secretaria de Cultura que se destacou, participando de projetos com alunos e ampliando seus horizontes artísticos com teatro, cinema e música.

Durante a pandemia, Glau decidiu investir em si mesma e retomou seus estudos, cursando Licenciatura em Música à distância, demonstrando seu comprometimento com a educação e a cultura mesmo em tempos desafiadores.

Além de sua atuação no campo educacional, a artista também é conhecida por sua participação no grupo Caixa Preta, formado por atores, atrizes e produtores negros. O grupo, que brilhou nos palcos com peças teatrais de impacto social, atualmente segue caminhos individuais, mas mantém viva a chama da representatividade e da luta por igualdade.

Ao falar sobre os obstáculos que enfrenta, Glau enfatiza a importância de abordar a questão dos 50+ e os desafios de ser negra em uma sociedade ainda marcada pela desigualdade racial. Ela destaca sua vivência e a influência da família, especialmente sua avó, que desde cedo a incentivou a explorar suas potencialidades artísticas.

Apesar de não ter lembranças explícitas de discriminação, Glau reconhece a relevância de sua condição de mulher negra em certas situações, como liderar projetos dentro da Secretaria de Cultura ou enfrentar a falta de pontualidade de colegas de trabalho.

Mesmo diante desses desafios, Glau deixa uma mensagem inspiradora para outras mulheres, incentivando-as a se libertarem de padrões e expectativas sociais. Para ela, é fundamental celebrar a liberdade de ser autêntica, sem se preocupar com julgamentos externos. A professora acredita na importância de compartilhar histórias e experiências semelhantes, apoiando-se mutuamente para transformar a sociedade e alcançar uma maior liberdade e realização pessoal.

Uma voz feminina ressoa no ambiente masculino

Em um mundo onde 72% dos membros de uma associação são homens, Silvana Dilly, uma mulher de 40 anos, se destaca. Como superintendente da Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), Silvana navega por um ambiente que ela mesma descreve como “bem masculino”. No entanto, ela não se intimida, mas vê isso como uma oportunidade para mudar a dinâmica.

Silvana ainda não se encontra na faixa das 50+, mas tem consciência das conquistas obtidas e segue na luta diária para aperfeiçoar direitos. Ela acredita que a mudança é mais do que uma questão de respeito ou oportunidade: é cultural. “Quando dizemos que o homem é engenheiro e a mulher é arquiteta, ou que o homem é médico e a mulher é enfermeira, isso é uma questão cultural. Fomos educados para pensar assim”, afirma.

Mas Silvana vê uma mudança positiva no horizonte. Com o público feminino estudando, trabalhando e ocupando cada vez mais cargos de chefia, ela acredita que a cultura está mudando e elogia o movimento atual de mulheres em posições de liderança que encorajam outras a seguir seus passos.

Agora, mãe de uma menina de quatro anos, Silvana destaca a carga maior que as mulheres enfrentam com a maternidade. A superintendente da Assintecal conclui que as mulheres em posições de liderança não devem ser vistas como “supermulheres”, mas sim reconhecidas por sua capacidade de equilibrar responsabilidades profissionais e pessoais e por sua disposição em abrir caminho para outras.

Silvana enfrenta diversos desafios em um ambiente predominantemente masculino. Em reuniões da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 90% a 95% dos participantes são homens, muitos dos quais mais velhos. Já foi, inclusive, abordada por mulheres que assumiram erroneamente que ela não era uma representante do setor. No entanto, quando explicou quem era, foi permitido que ela se sentasse na cadeira reservada aos executivos de entidades. Silvana acredita que essa situação está mudando e prevê que em cinco anos, 10% das mulheres estarão presentes nessas reuniões.

Ela também discute a questão da maternidade e como isso afeta as mulheres no ambiente de trabalho, observando que, mesmo quando o parceiro é muito presente, uma criança tende a depender mais da mãe do que do pai. Isso muitas vezes leva as mães a fazerem uma pausa na carreira, especialmente após o nascimento do segundo filho.

Para as mulheres de 40 e 50 anos ou mais que estão enfrentando desafios, Silvana aconselha: “Acreditem nas suas escolhas. A pior coisa é não tentar. Se tiverem uma ideia genuína, vão em frente, vai dar certo.” A superintendente acredita que as mulheres precisam se encorajar e encorajar outras para que a mudança aconteça mais rapidamente.

Silvana Dilly é superintendente da Assintecal | Foto: Rafael Bauer / Divulgação / Correio do Povo

Mulheres 50+: a força da experiência e da resiliência

Loreni Maria Rosa Pereira, aos 66 anos, desafia convenções. Sua jornada começou na indústria calçadista aos 12 anos e desde então, tem trilhado um caminho de superação e conquistas. Em 1992, realizou um sonho ao ingressar como guarda municipal em Novo Hamburgo por meio de um concurso público.

Com o tempo, Loreni não apenas concluiu o Ensino Médio, mas também cursou a faculdade de Serviço Social. Mesmo aposentada, sua dedicação ao trabalho social não cessou. Ela é uma voluntária incansável, sempre pronta para ajudar os outros. “Cuidar da saúde e manter a mente jovem, mesmo com o avançar da idade, é importante”, enfatiza.

Ao relembrar suas origens, Loreni fala dos desafios enfrentados por sua família, marcados pela luta diária para garantir o sustento. Apesar das dificuldades, ressalta o papel fundamental da educação e da determinação de seu pai, que sempre incentivou a família a superar as adversidades.

Loreni também compartilha experiências de preconceito racial e de julgamentos baseados em sua aparência. Relembra momentos em que foi preterida ao tentar comprar uma TV ou um carro novo, presumindo-se que ela não teria condições financeiras para arcar com investimento.

Suas palavras destacam a persistência do preconceito racial e a necessidade contínua de luta, mesmo em situações cotidianas. Enfatiza a importância da representatividade e da igualdade de oportunidades para todos, independentemente da cor da pele ou da idade.

A história de Loreni é um testemunho da força e da resiliência das mulheres acima dos 50 anos. Ela mostra que a idade não é um empecilho, mas sim uma fonte de sabedoria e experiência que pode ser usada para contribuir positivamente para a sociedade. E, acima de tudo, nos lembra que, independentemente dos desafios que enfrentamos, temos a capacidade de superá-los e fazer a diferença.

Ana Bazzan: uma jornada inspiradora na tecnologia

Influenciada por seu pai engenheiro, a professora Ana Bazzan traçou uma trajetória na tecnologia. A engenharia parecia uma escolha natural para ela, e após um estágio em uma empresa de sistemas durante seus estudos universitários, ela foi contratada. Com um interesse crescente em sistemas especialistas e inteligência artificial, Ana prosseguiu com o mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e o doutorado na Alemanha, optando por uma carreira acadêmica onde também se dedica à pesquisa.

Atualmente, Ana é professora titular no Instituto de Informática da UFRGS. Seus interesses de pesquisa são variados e incluem o uso de paradigmas da teoria dos jogos para coordenação de agentes, aprendizado em sistemas multiagente, simulação baseada em agentes, sociedades artificiais, sistemas complexos, simulação e controle de tráfego, aprendizado de máquina distribuído e inteligência de enxame.

Ana observa a diminuição do interesse das mulheres pela computação e atribui isso a questões educacionais e culturais. Por isso, enfatiza a importância de atrair mais pessoas, especialmente mulheres, para a carreira de tecnologia desde o ensino médio. Para atrair mais pessoas para a área de tecnologia, Ana sugere a implementação de programas acadêmicos mais inclusivos e eventos atraentes, como o Portas Abertas da Ufrgs.

Ao destacar exemplos históricos de mulheres na tecnologia, como as que trabalharam na NASA nas décadas de 50 e 60, Ana ressalta que, naquela época, habilidades como matemática eram mais valorizadas do que o gênero. Ela destaca que muitas dessas mulheres não tinham formação específica em computação, mas foram recrutadas por suas habilidades em áreas relacionadas.

Ana enfatiza a importância contínua da luta pela inclusão e diversidade. Embora atualmente haja poucas mulheres em sua área de pesquisa, Ana destaca que houve uma maior representatividade nas décadas de 80 e 90 e que a tendência é que esse número diminua à medida que essa geração se aposente.

Loreni é um testemunho da força e da resiliência feminina | Foto: Arquivo Pessoal / Correio do Povo

Sonhos e ideias atrelados às estrelas

“Meus pés estão sempre firmes no chão, mas meus sonhos e ideias estão atrelados às estrelas.” A frase resume o caminho que a empresária Madeleine Rossi de Moraes Hilbk segue trilhando aos 81 anos. Fundadora da Vila Rica Imóveis, com matriz em São Leopoldo, Madeleine hoje comanda os negócios ao lado do CEO Leandro Hilbk, primogênito dos três filhos. Formada em Letras, ela abriu mão de lecionar e optou pelo ramo empresarial com apoio do marido, em 1973. Apenas três anos depois, ficou viúva, com três crianças entre 5 e 12 anos traumatizadas pela morte acidental do pai. Naquele momento, como em outras situações difíceis, decidiu sonhar.

Madeleine queria ver os filhos formados e com uma vida feliz. E também sonhava em mostrar que uma mulher poderia vencer como empresária. Assim, desbravou caminhos. Foi a primeira mulher a integrar a Associação Comercial e Industrial de São Leopoldo e está entre as primeiras mulheres a participar da Federasul, entidades onde se mantém até hoje. “Eu queria saber como administravam, como selecionavam pessoas, como lideravam. Estou sempre disposta a aprender e sigo aprendendo muito nessas vivências.”

A Vila Rica hoje tem mais de 200 colaboradores e 87% são mulheres. Além dos dois filhos e uma filha, Madeleine tem hoje quatro netas e um neto. Mantém um novo casamento há quase três décadas, viaja, dedica horas diárias à natureza, voltou a tocar e estudar piano, que sempre foi sua paixão, investe e participa de projetos culturais e sociais. “Tive poucas situações de discriminação por ser mulher, mesmo quando eu era a única entre os homens. Acredito que hoje estamos vivendo um momento glorioso como mulheres, com muito conhecimento à disposição, muitas possibilidades de crescimento que não existiam em outras épocas. Hoje o mundo está pronto para que homens e mulheres andem lado a lado, criando ambientes mais sensíveis e mais amorosos.”

Empresária Madeleine Rossi de Moraes Hilbk segue trilhando seu caminho aos 81 anos | Foto: Danieli Martini / Divulgação / Correio do Povo

Ana Bazzan: uma jornada inspiradora na tecnologia

Influenciada por seu pai engenheiro, a professora Ana Bazzan traçou uma trajetória na tecnologia. A engenharia parecia uma escolha natural para ela, e após um estágio em uma empresa de sistemas durante seus estudos universitários, ela foi contratada. Com um interesse crescente em sistemas especialistas e inteligência artificial, Ana prosseguiu com o mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e o doutorado na Alemanha, optando por uma carreira acadêmica onde também se dedica à pesquisa.

Atualmente, Ana é professora titular no Instituto de Informática da UFRGS. Seus interesses de pesquisa são variados e incluem o uso de paradigmas da teoria dos jogos para coordenação de agentes, aprendizado em sistemas multiagente, simulação baseada em agentes, sociedades artificiais, sistemas complexos, simulação e controle de tráfego, aprendizado de máquina distribuído e inteligência de enxame.

Ana observa a diminuição do interesse das mulheres pela computação e atribui isso a questões educacionais e culturais. Por isso, enfatiza a importância de atrair mais pessoas, especialmente mulheres, para a carreira de tecnologia desde o ensino médio. Para atrair mais pessoas para a área de tecnologia, Ana sugere a implementação de programas acadêmicos mais inclusivos e eventos atraentes, como o Portas Abertas da Ufrgs.

Ao destacar exemplos históricos de mulheres na tecnologia, como as que trabalharam na NASA nas décadas de 50 e 60, Ana ressalta que, naquela época, habilidades como matemática eram mais valorizadas do que o gênero. Ela destaca que muitas dessas mulheres não tinham formação específica em computação, mas foram recrutadas por suas habilidades em áreas relacionadas.

Ana enfatiza a importância contínua da luta pela inclusão e diversidade. Embora atualmente haja poucas mulheres em sua área de pesquisa, Ana destaca que houve uma maior representatividade nas décadas de 80 e 90 e que a tendência é que esse número diminua à medida que essa geração se aposente.


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