De Novo Hamburgo para o mundo: grupo de viagens só para mulheres une aventura e acolhimento

De Novo Hamburgo para o mundo: grupo de viagens só para mulheres une aventura e acolhimento

Projeto “Viaja Guria” começou há menos de um ano e se tornou rede de apoio para centenas de mulheres

Camila Souza

Projeto "Viaja Guria" já recebeu mais de 300 passageiras

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Quando a criadora de conteúdo Letticia Gerhardt marcou um happy hour com algumas seguidoras, ela não imaginava que aquele encontro seria o começo de um projeto que impactaria a vida de centenas de mulheres: o “Viaja Guria”. O grupo de viagem exclusivo para o público feminino começou no Rio Grande do Sul, de uma forma despretensiosa, e agora está se expandindo para todo o país.

Letticia, de 29 anos e moradora de Novo Hamburgo, mantinha uma comunidade online de mulheres em seu perfil no Instagram, abordando variados temas do universo feminino. Ela começou a reunir algumas seguidoras em um grupo de WhatsApp para marcar encontros presenciais.

Em um desses momentos, em maio do ano passado, com pessoas de diferentes cidades e que não se conheciam, surgiu a ideia de marcarem uma viagem juntas. O lançamento do projeto aconteceu um mês depois, dia 5 de junho, quando foi feita a primeira publicação no perfil do “Viaja Guria”. “Foi uma ação de conjunto e comunidade mesmo”, conta.

Em pouco tempo, a iniciativa ganhou grandes proporções e começou a reunir cada vez mais mulheres. “Na minha cabeça, eu ia fazer uma viagem a cada dois meses para juntar público, mas na primeira a gente já tinha muitas pessoas”, lembra. Hoje, a página no Instagram reúne mais de 51 mil seguidores. Desde junho do ano passado, foram feitas dez viagens, nacionais e internacionais, com mais de 300 participantes.

Ao longo desse tempo, Letticia foi descobrindo seu propósito. Na primeira viagem, ela comenta que a maioria do grupo estava passando por um momento difícil e usou essa oportunidade como ferramenta para se sentir bem e criar conexão com outras mulheres. “Entendi que aquilo que eu visionava era muito pequeno perante o que o ‘Viaja Guria’ se tornou na prática.”

Por isso, seu principal objetivo agora é expandir essa comunidade para todo o país, sendo uma rede de apoio e acolhimento. “Se tornou minha principal fonte de renda não por conta do retorno financeiro, mas pelo significado. Eu percebi que isso toca muito mais as pessoas do que a criação de conteúdo, que envolve publicidade”, diz.

Mesmo sendo exclusivo para mulheres, o perfil do público que participa das aventuras é bem diversificado. As mais frequentes são as nascidas nos anos 90, segundo Letticia, mas o “Viaja Guria” já recebeu passageiras de três e de 84 anos de idade. “A gente acaba adaptando a viagem para atender as necessidades”, explica.

Além disso, a maioria das mulheres procura a viagem em grupo com um propósito. Situações de términos de relacionamento, de mães que buscam um tempo para si mesmas e de jovens que querem se tornar mais independentes dos pais são bem frequentes, segundo a coordenadora do projeto.

“Sabemos tudo isso porque temos um momento de integração na viagem, para todo mundo se apresentar e falar. Ficamos bem felizes que conseguimos promover um ambiente acolhedor e seguro e que as pessoas se sintam confortáveis em ser vulneráveis.”

Grupos são formados por mulheres de variadas idades e de diferentes momentos de vida | Foto: Danielle Müller / Divulgação / CP

Uma comunidade em expansão

Mulheres que viajam sozinhas enfrentam dois principais obstáculos: um deles está relacionado à segurança, enquanto o outro é o julgamento social por não estarem acompanhadas durante a jornada. “É aquela questão de você precisar de outra pessoa para te validar socialmente, para que você seja uma pessoa legal, aceitável”, comenta Letticia.

Quem opta por fazer os passeios em grupos, mesmo com pessoas desconhecidas, não recebe esses olhares de estranheza, mas ainda pode se sentir insegura em relação à aceitação do restante das passageiras.

Mesmo com os medos que podem surgir e que são comuns, a experiência pode ser transformadora e proporcionar aprendizados únicos. “Viajei sozinha desde os meus 18 anos. Acho que a mais significativa foi um dia que eu peguei a mochila, comprei uma passagem só de ida para Salvador e fiquei dois meses trabalhando em um hostel. Eu encontrei na viagem a solitude e não a solidão”, afirma Letticia.

Por esse motivo, além de promover as viagens em grupo, ela quer, também, criar programas de consultoria e mentoria para as mulheres que têm esse sonho e não conseguem tirar do papel. Dentro disso, a ideia é trabalhar questões educacionais no turismo e desenvolvimento pessoal. “Queremos capacitar mulheres para não necessariamente só viajar com a gente, mas que elas possam desbloquear todas essas aventuras que podem ter sozinhas também.”

Outro programa previsto para este ano é o “Vem para o RS”. Como o perfil alcançou milhares de pessoas de todas as regiões do Brasil, Letticia quer fomentar o turismo no território gaúcho para além de Gramado. “Queremos apresentar Novo Hamburgo, que é a cidade natal do ‘Viaja Guria’, e compilar os nossos bate-voltas em três noites, fazendo programações de comunidade dentro disso também”, detalha.

O sucesso do “Viaja Guria”, mesmo com tão pouco tempo de existência, mostra a potência da união entre mulheres. Além de se conectar com outras pessoas e ter a oportunidade de fazer novas amizades, fazer uma viagem em grupo pode ser o primeiro passo para quem quer ganhar coragem e ter essa experiência sozinha.


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