Dia Internacional da Mulher: a trajetória empoderada das mulheres 50+

Dia Internacional da Mulher: a trajetória empoderada das mulheres 50+

No Dia Internacional da Mulher, o Correio do Povo conta como mulheres 50+ enfrentam desafios e quebram estereótipos sociais

Lisiane Mossmann

Mulheres com mais de 50 anos enfrentam uma série de mudanças significativas: transformações pessoais e profissionais

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Mulheres com mais de 50 anos estão moldando suas trajetórias através de desafios superados, conquistas alcançadas e experiências vividas. Elas não são invisíveis, pelo contrário, destacam-se em diversos campos, quebrando estereótipos e redefinindo padrões. São as protagonistas de suas próprias histórias, redefinindo conceitos de beleza, maturidade e sucesso. Por isso, neste Dia Internacional da Mulher, a reflexão dessa “nova mulher” é tão urgente.

Assim como nos demais países do mundo, no Brasil a população feminina com mais de 50 anos está crescendo rapidamente. Em 2000, somavam quase 15 milhões. Dez anos depois, mais de 21 milhões. Em 2022, mais de 30 milhões, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, a expectativa de vida das mulheres também aumentou de 77,6 anos em 2010 para 79 anos em 2022.

Com a população feminina aumentando e vivendo mais, muitos estereótipos do envelhecimento têm caído por terra. Em 2022, uma pesquisa do Núcleo Data8, da consultoria Hype 50+, mostrou que a ideia de “velho” está sendo substituída por um novo conceito chamado “middlescence”, que se refere ao período ou condição da meia-idade e representa a nova face da maturidade, num perfil de 45 a 65 anos.

O aumento do número de consumidores nessa faixa etária, principalmente, mulheres, exige mais do que nunca discussões de inclusão em todas as esferas: trabalho, social, saúde, políticas públicas, educação e outras tantas. O estudo da Hype 50+ trouxe dados que desafiam paradigmas: 60% dos brasileiros com mais de 50 anos dizem que não se sentem com a idade que têm. Já 40% com mais de 65 anos acreditam que viverão mais de 100 anos. Trinta e nove por cento revelam que são a única fonte de renda de sua casa, e 73% deles com mais de 55 anos afirmam que vivem do seu próprio sustento, sem depender de filhos e/ou netos.

A pesquisa ainda mostra que 77% dos brasileiros com mais de 50 anos acessam a internet todos os dias, e 43% compraram produtos e/ou serviços pela internet nos últimos 12 meses. Sete em cada dez usam as redes sociais para se conectar profissionalmente.

Mulheres 50+ se libertam de papéis tradicionais e buscam a realização pessoal | Foto: Freepik / Divulgação / Correio do Povo

Perfis emergentes, realidades transformadas

Diante dessa nova realidade, a socióloga Sueli Cabral, professora da Universidade Feevale, esclarece que as mulheres com mais de 50 anos estão passando por um processo de redescobrimento. Elas não são supermulheres, nem a imagem estereotipada da avó, o que traz novos desafios individuais e coletivos. “Não é a Vovó Benta ou Dona Benta. Não é a Lady Di. É uma mulher que está envelhecendo e com os pratos caídos”, fazendo referência a uma analogia que circulava nas redes sociais.

Sueli destaca a analogia feita por uma influencer, cujo nome não recorda, comparou a mulher a um malabarista. Assim como ele, a mulher precisa equilibrar vários pratos ao mesmo tempo para não os deixar cair. “É um verdadeiro malabarismo: ser excelentes mães, excelentes companheiras, grandes profissionais. Magras. Bonitas. Dispostas. E dar conta de tudo”, completa. Segundo Sueli, houve um tempo em que “a queda de um dos pratos” tinha uma dimensão maior do que a atual. No entanto, ainda é superdimensionada: afinal, mais habilidades e superações são exigidas das mulheres do que dos homens.

A geração feminina anterior das 50+ de hoje, explica Sueli, era composta por mulheres que ficavam em casa. Saíam em momentos de crise e depois voltavam. A geração 50+, da qual faz parte, foi para a rua e conquistou mais independência e autonomia, mas outras mulheres acabaram assumindo o fazer doméstico. “A nossa independência foi às custas de outras mulheres. Ou seja, a lógica não mudou: só colocamos outras no nosso lugar dentro de casa”, enfatiza. Atualmente, é possível verificar que as tarefas domésticas são mais divididas entre a família: maridos e filhos. Mas requer ainda muito avanço.

Por isso, segundo a professora que pesquisa vulnerabilidades e processos psicossociais, é preciso olhar o envelhecimento feminino da geração 50+ por uma lente que perceba estereótipos e preconceito para poder entender o que acontece nessa geração.

Sueli traz à tona exemplos que ocorrem no mercado de trabalho. As mulheres enfrentam dois grandes desafios. Primeiro, têm que gerenciar muitas tarefas em suas vidas pessoais, muitas vezes, delegando-as a outras mulheres. Isso significa que elas continuam a ter uma “vida dupla”: gerenciando empregados, cuidando da casa, cuidando dos filhos. E o segundo, ao chegar ao trabalho, enfrentam discriminação. Acham que estão fora de época, que não sabem como se comunicar com alguém de 18 anos ou que são super qualificadas, muito experientes e, portanto, muito caras. “Além disso, há a percepção de que uma mulher mais velha pode ficar mais doente e não aguentar o ritmo de trabalho que as pessoas mais jovens podem aguentar”, completa.

A professora de Economia Comportamental e coordenadora do Laboratório de Finanças Pessoais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Paula Sauer, diz que a mulher ainda enfrenta barreiras, como interrupções na carreira devido à maternidade. “Quantas vezes uma mulher já passou por uma entrevista de emprego em que foi questionada se pretende ter filhos? Essa pergunta raramente é feita a um homem, mas para a mulher, ter filhos é visto como um obstáculo na carreira.”, completa.

A psicóloga Gilla Maria Jacobus Bastos ressalta que as mulheres mais velhas, acima dos 50 anos, estão cada vez mais se libertando de papéis tradicionais, como cuidar dos netos, e buscam sua realização pessoal. Mas observa que, apesar dos avanços, ainda há desafios. Por isso, a importância de as mulheres desmistificarem tabus como, por exemplo, o climatério e a menopausa.

Tanto Sueli quanto Gilla afirmam que é inegável a evolução dos papéis das mulheres ao longo das gerações: mudança significativa com mais opções de escolhas e autonomia em relação à maternidade, ao casamento e à vida profissional.

Os ganhos das lutas são tantos que a psicóloga Gilla Bastos diz que as mulheres mais jovens, especialmente de 40+, vivenciam outro dilema. Vivenciam mais a liberdade de escolha conquistada pela geração anterior, mas enfrentam pressões sociais e culturais conservadoras que ressurgem.


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