Eliminação da gordura trans pode evitar 10 mil mortes por ano no Brasil; entenda

Eliminação da gordura trans pode evitar 10 mil mortes por ano no Brasil; entenda

Pesquisador Eduardo Nilson criou metodologia para prever impactos positivos da redução de gordura trans

Correio do Povo

publicidade

O organismo não precisa de gordura trans. Diferentemente de outros tipos de gordura, a trans não tem papel nutritivo e cumpre apenas funções tecnológicas relacionadas à consistência, aparência e tempo de prateleira dos alimentos, principalmente os processados e ultraprocessados. Produzida artificialmente e usada, por exemplo, em sorvetes, margarinas e congelados, ela causa dislipidemias, isto é, níveis elevados de gorduras no sangue que podem entupir as artérias e provocar infarto ou derrame, entre outros problemas. 

Por isso, vários países do mundo, inclusive o Brasil, por meio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já decretaram o fim do uso de óleos e gorduras parcialmente hidrogenados – principais fontes de gorduras trans. Este foi um dos temas apresentados pelo pesquisador Eduardo Nilson, do Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura (Palin) da Fiocruz Brasília, durante o 20º Congresso Latino-Americano de Nutrição, no Equador. 

Diante das evidências científicas sobre a gordura trans, iniciou-se um movimento nos Estados Unidos, com a Food and Drug Administration (FDA), pelo banimento desse componente nos alimentos. Isso convergiu para um pacote de medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), incluindo rotulagem obrigatória e redução até eliminação da gordura trans dos produtos.

Em dezembro de 2019, a Anvisa publicou uma resolução que definia requisitos para uso de gorduras trans industriais. De acordo com esse documento, entre julho de 2021 e janeiro de 2023, a quantidade delas não poderia exceder duas gramas por 100 gramas de gordura total nos alimentos e, a partir de 1º de janeiro deste ano, “ficam proibidos a produção, a importação, o uso e a oferta de óleos e gorduras parcialmente hidrogenados para uso em alimentos e de alimentos formulados com estes ingredientes”.

Segundo Nilson, ainda é cedo para perceber os impactos positivos dessas medidas, mas eles já podem ser previstos. Por meio de uma metodologia desenvolvida pelo pesquisador, com base em modelos matemáticos que utilizam informações sobre carga de doenças e seus riscos epidemiológicos, a expectativa é de que 10 mil mortes por doenças cardiovasculares sejam prevenidas anualmente em um Brasil livre da gordura trans.

Nilson foi convidado pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS) para aplicar essa metodologia e calcular os impactos positivos previstos também em outros países. “Esse trabalho ajuda a consolidar políticas públicas de redução e eliminação da gordura trans”, destaca o pesquisador.

Em outra palestra no congresso, Nilson falou sobre outro ingrediente cujo consumo em excesso tem sido causa de muito adoecimento e morte: o sódio. “Ele é ainda mais difícil de reduzir porque está fortemente associado a questões culturais. No Brasil e em outros países da América Latina, as pessoas têm esse hábito de usar o saleiro e adicionar mais sal aos alimentos. Por isso, a diminuição do consumo de sódio requer não medidas isoladas, mas um conjunto articulado de intervenções”, explica.

Segundo o pesquisador, o sal de adição aos alimentos responde, atualmente, por pouco mais de 50% do consumo de sódio, contra cerca de 40% dos produtos processados e ultraprocessados.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895