Entenda o que é o ghosting e quais são as consequências da prática

Entenda o que é o ghosting e quais são as consequências da prática

Atitude demonstra falta de cuidado e gera sentimento de culpa, de acordo com psicóloga

Camila Souza

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Com os aplicativos se tornando cada vez mais o ponto de partida de relações amorosas, a comunicação - ou a falta dela - tem virado tema de diversos debates nas redes sociais. O termo ghosting, que vem da palavra ghost (fantasma, em inglês), se popularizou por definir o desaparecimento repentino das pessoas do outro lado da tela. Acontece de uma forma inesperada, quando a conversa está fluindo e o outro some sem dar explicações.

De acordo com a psicóloga Ilana Andretta, diversos motivos podem levar à prática do ghosting, entre eles a falha no processo de comunicação e a falta de alinhamento em relação aos objetivos e às expectativas. Ela também ressalta que a responsabilidade afetiva é importante neste processo: “A partir do momento em que nos envolvemos com alguém, precisamos necessariamente nos responsabilizar sobre o que emitimos e também sobre o que o outro escuta.” 

Karen Hessel, de 24 anos, afirma que se sentiu “desrespeitada” após sofrer o ghosting de alguém que conheceu por um aplicativo. “Eu estava saindo com um garoto e era ótimo, não lembro de ter sido tão bem tratada. Mas ele parou de me responder e uns dias depois vi ele com outra garota ‘pique casal’, nem falei nada, mas fiquei triste”, conta. Segundo Ilana, que também é professora de Psicologia na Unisinos, o afastamento sempre deve ser comunicado. “Essa comunicação deve ser direta, fluida, assertiva, em que eu possa respeitar os afetos da outra pessoa, mas que eu também me sinta respeitado nos meus desejos. A gente precisa estabelecer esse canal de comunicação desde o início da relação”, enfatiza.

Há quem pense que a comunicação só é necessária quando existe um rótulo na relação, como um namoro, por exemplo. Karen conta que também já esteve do outro lado, praticando o ghosting: “Antigamente, eu fazia bastante isso de só parar de responder, por achar que não tinha oficializado nada não devia satisfação. Mas um amigo me chamou atenção para isso, disse que era um gesto muito claro de imaturidade. Desde então, eu sou bem franca com as pessoas. Já teve um cara que me agradeceu por tamanha honestidade. Acho que não é um lance muito comum atualmente”, comenta.

E para a professora Ilana, o sumiço também demonstra uma falta de cuidado: “Quando falamos sobre empatia nos relacionamentos, estamos falando sobre o cuidado consigo e com as outras pessoas. Certamente o ghosting é uma falta de cuidado com o outro”, afirma.

Quem também passou pela mesma situação foi Mateus Luz, de 23 anos. Assim como Karen, ele conheceu uma pessoa por um aplicativo. “Conversamos bastante. Eu e ele tínhamos os mesmos objetivos, estávamos na mesma sintonia”, conta. Porém, depois de saírem juntos e marcarem outros encontros, veio o ghosting. A pessoa do outro lado da tela parou de responder sem qualquer explicação. “Me senti horrível. Tu não sabe se o problema é tu, se foi uma atitude que tu teve, algo que falou, fica pensando em mil coisas que podem ter ocasionado o sumiço e nunca vai saber realmente o que é. Isso é muito triste, falta de responsabilidade”, diz Mateus. 

A professora Ilana ressalta que o sumiço, além do sentimento de culpa, gera uma fantasia na outra pessoa. “É como se fosse uma morte em que a gente não conseguiu fazer a despedida. A gente vai ficar sempre com uma fantasia do que causou esse desaparecimento e muitas vezes a culpa fica atribuída a si mesmo. Mas essa atitude diz muito mais sobre quem desapareceu do que quem ficou do outro lado da situação”, afirma.

A especialista também lembra que nas relações virtuais é mais difícil ter informações sobre quem está do outro lado: “Talvez essa ânsia por relações numa velocidade muito exagerada faz com que a gente acabe se envolvendo com algumas pessoas sem ter conhecimento de quem elas são, como elas agem.”

E a recomendação de Ilana para lidar com o ghosting é refletir sobre a história desde o início: “Avaliar as expectativas, aquilo que foi dito e perguntado, olhar para os seus desejos e necessidades, para não repetir os mesmos erros. É importante a gente poder olhar para a história, curar as feridas, para poder pensar em um novo relacionamento”, diz.


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