Esporte de alto rendimento e maternidade, um dilema ainda atual

Esporte de alto rendimento e maternidade, um dilema ainda atual

Gravidez ainda é percebida como uma decisão de risco para quem é atleta

AFP

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Conciliar o esporte de alto rendimento e a maternidade permanece sendo um dilema para muitas atletas, como no caso da velejadora Clarisse Crémer, vetada do 'Vendée Globe 2024' após ter sido mãe em novembro. Há dois anos, uma investigação de um grupo de trabalho associado ao ministério do Esporte na França mostrou que a maioria (61,6%) das centenas de atletas entrevistadas considerou muito difícil ser mãe durante a carreira.

"O esporte continua sendo um ambiente conservador. Existem muitas ideias preconcebidas sobre o que uma mulher pode fazer ou deixar de fazer quando se torna mãe", disse à AFP a socióloga do esporte Catherine Louveau.

O temor da queda de rendimento, uma pausa prolongada no cenário competitivo, a falta de apoio dos patrocinadores; a gravidez ainda é percebida como uma decisão "de risco" por muitas atletas que preferem renunciar à maternidade ou esperar o término da carreira esportiva. Embora não seja o caso de Clarisse Crémer, a mulher mais rápida da Vendée Globe, que deu à luz em novembro passado e foi afastada de seu barco quatro meses depois por seu patrocinador, o Banque Populaire.

O grupo bancário francês alegou que como a atleta não participou das primeiras provas classificatórias para a edição de 2024 porque estava grávida, não teria chances de participar a largada, o que fez com que a empresa descartasse sua participação na competição. "Ainda temos que melhorar e vamos ver como integrar (a) gravidez (nos regulamentos), talvez mais para acalmar os patrocinadores do que as próprias velejadoras", analisou Alain Leboeuf, presidente da Vendée Globe, em um debate sobre o esporte feminino, na segunda-feira (6).

Para Marie-Françoise Potereau, membro da Federação Francesa de Ciclismo e diretor de igualdade no Comitê Olímpico Francês, o caso de Crémer "pode acontecer em outras federações". Em maio de 2019, a estrela do atletismo americano Allyson Felix, dona de sete medalhas de ouro olímpicas, denunciou as dificuldades que teve com a Nike, sua patrocinadora, quando engravidou.

"Se tivermos filhos, corremos o risco de perder o investimento dos nossos patrocinadores durante a gravidez e após", denunciou a velocista, que mais tarde lançou sua própria marca de calçados, especializada no pé feminino.

Poucos avanços

No caso dos esportes coletivos, a Fifa deu um passo à frente quando, no final de 2020, impôs a licença-maternidade às suas federações-membro. Medida rara até poucos anos atrás, sobretudo no futebol feminino, modalidade na qual cada vez mais jogadoras estão se tornando mães durante a carreira.

Mas ainda há muito a ser conquistado, como foi visto em janeiro com as revelações da islandesa Sara Bjork Gunnarsdottir, que denunciou uma queda significativa no salário pago pelo Lyon quando engravidou em 2021. Posteriormente ainda viveu os obstáculos que o clube francês colocou para que conseguisse conciliar a maternidade com a carreira quando voltasse às competições.

No handebol francês, modalidade que conta com várias jogadoras que também são mães, uma medida surgiu para dar esperanças às atletas. A campeã olímpica Cléopâtre Darleux assinou um acordo coletivo em janeiro de 2021 que prevê a licença-maternidade com manutenção salarial por um ano. A Liga Francesa de Basquete Feminino também espera aprovar em breve um próprio acordo coletivo que integraria medidas a favor da maternidade a partir de 1º de julho.

Mas apesar desses poucos avanços, ainda há muito a ser feito no esporte como um todo em relação à maternidade de atletas. "Notícias recentes mostraram que as competições e regulamentos esportivos não levaram suficientemente em conta os aspectos relacionados à maternidade", refletiu a ministra francesa do Esporte, Amélie Oudéa-Castéra, na segunda-feira.


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