Moda sustentável: peças feitas à mão devem ganhar mais espaço nos looks, aponta especialista

Moda sustentável: peças feitas à mão devem ganhar mais espaço nos looks, aponta especialista

Bella Mais conversou com Marina Käfer para destacar as tendências que dominaram o 55º São Paulo Fashion Week

Camila Souza

Desfile da marca Isaac Silva ocorreu na Ocupação 9 de Julho

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O maior evento de moda do Brasil, o São Paulo Fashion Week, chegou ao fim da sua 55ª edição no último domingo, mas o que foi visto nas passarelas vai seguir em alta nos próximos meses. Muita transparência, peças artesanais, brilho e alfaiataria diferenciada devem ganhar espaço nas vitrines e nos guarda-roupas. O Bella Mais conversou com a especialista em estratégia visual e influenciadora gaúcha Marina Käfer, que participou do SPFW, para destacar as tendências que dominaram os desfiles.

A sustentabilidade e o consumo consciente têm pautado cada vez mais os movimentos na indústria da moda, e nesta edição do SPFW não foi diferente. Segundo Marina, peças feitas à mão foram destaques em vários desfiles, entre eles o da marca Isaac Silva, que apresentou a coleção “Banho de Axé”, inspirada na música “Banho de Folhas”, de Luedji Luna. Além da passarela coberta por folhas de arruda, a planta também apareceu nos acessórios feitos à mão a partir de processos de reciclagem de resina. “Foi um dos que mais me chamou atenção por apresentar um mix de texturas e por trazer a natureza para a moda. Eles também trabalharam bastante nesse sentido de trazer quem faz para a passarela, destacando as costureiras e a matéria-prima”, comenta. 

Outro desfile que marcou o evento foi o do Ponto Firme, que conta com um grupo de artesãos egressos do sistema prisional. No projeto, as peças são criadas através de matéria prima reciclada. A coleção teve como destaque trajes em crochê e foi apresentada no Copan. “Eles utilizam tudo que já é descartado na moda e trazem esse reciclável com uma pegada extremamente moderna”, diz a especialista. 

Além de peças artesanais, brilho e transparência também devem aparecer bastante na próxima temporada. Marina também ressalta que a alfaiataria vai ganhar mais espaço, mas com uma proposta diferente: “Ela vem com muito mais modelagem e estrutura, com ombreira e com mais comprimento.” Já no street style, looks all jeans e calças de cintura baixa chamaram atenção, segundo a influenciadora.

Veja o desfile do projeto Ponto Firme:

Beleza natural e cabelo com frizz marcam desfiles

Enquanto o brilho e as cores vibrantes roubaram a cena nos looks, a maquiagem foi mais discreta, destacando a beleza natural, de acordo com Marina. “A beleza vem com uma pegada ‘fresh’. É como se tu tivesse saído da praia, com o rosto meio úmido, com aquele brilhinho. Também vi bastante cabelos com frisadinho”, explica. 

A especialista ressalta que essa tendência fresh, que remete ao frescor e suavidade, apareceu na maioria dos desfiles, com o destaque na make sendo revezado, indo só para o olho ou só para a boca. “Isso é uma coisa legal, porque a gente percebe o quanto a beleza natural está retornando”, avalia.

Tendência “animal print” repaginada

As estampas também foram apresentadas de uma maneira diferenciada nas passarelas. Exemplo disso foram os desfiles das marcas Meninos Rei e The Paradise. “Eles trazem essa estamparia mais brasileira, com cor mais saturada, com a nossa fauna, trazendo muito a mistura do animal print com cores. A gente vê essa pegada muito forte na moda brasileira. Eu acho incrível que só nós [brasileiros] sabemos fazer isso”, diz Marina.

Ainda que o estilo animal print já seja considerado clássico, a forma com que ele foi visto nas passarelas traz uma novidade para este tipo de estampa. “O animal print foi colocado em seda, com desenhos diferentes, dentro de uma onça, dentro de um coração. É uma estampa considerada clássica, mas ela vem com essa repaginada, com essa linguagem de cada marca”, comenta a influenciadora.

Veja o desfile da marca Meninos Rei:

Representatividade na moda brasileira

Além dos looks diferenciados, a representatividade entre modelos também dominou as passarelas. Marina faz uma comparação e lembra que nos maiores eventos de moda internacional não foi vista essa diversidade de corpos e cores. “Vimos Rita Carreira e Manu Xavier, modelos plus de muito destaque, que deram seu show. Vimos também muita gente nova chegando e dando seu nome”, afirma.

Marina também propõe uma reflexão sobre a falta de valorização da moda brasileira e chama atenção para a qualidade das peças produzidas no país. “O que a gente vê nessas passarelas, a gente não vê em lugar nenhum no mundo. O peso que tem o São Paulo Fashion Week, a qualidade do produto de marcas brasileiras não têm  lugar nenhum. É realmente emocionante estar nesses eventos, porque eu acredito muito que a moda brasileira ainda tem muito a ser valorizada por nós”, pontua.


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