Pânico de gravidez: entenda o que é a tocofobia e seus impactos na vida das mulheres

Pânico de gravidez: entenda o que é a tocofobia e seus impactos na vida das mulheres

Transtorno pode causar depressão e crises de ansiedade

Camila Souza

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O medo de engravidar é comum em muitas mulheres, mas é preciso ficar atento quando essa preocupação atinge níveis desproporcionais e gera um transtorno de tocofobia. A psicóloga Maria Eduarda Lopes, especialista em Sexualidade Humana, explica que esse transtorno é dividido em dois tipos, sendo que o primário se desenvolve a partir da adolescência. Geralmente ocorre quando a pessoa acompanha uma experiência traumática, escuta histórias ou vê alguma cena de filme que possa ter causado algum choque. “Ela absorve aquela informação e leva a experiência traumática. Com o passar dos anos, essa vivência vai fazendo com que a pessoa desenvolva o medo patológico da gravidez ou do momento exato do parto”, diz. 

Já a tocofobia secundária ocorre quando a mulher vive um trauma durante a gravidez, como abortos, violência obstétrica e partos prematuros. Neste caso, o transtorno está relacionado com o receio de passar pela situação novamente. A especialista ressalta que o medo é considerado patológico quando vai além da situação considerada normal: “a gente percebe que virou uma fobia quando a pessoa tem um medo exagerado, faz exames de gravidez de forma excessiva e usa métodos contraceptivos de forma combinada. Muitas pessoas até evitam a relação sexual”. Além disso, Maria Eduarda destaca os principais sintomas para identificar a tocofobia:

  • Crises de ansiedade;
  • Crises de pânico;
  • Taquicardia;
  • Oscilação de humor;
  • Depressão;
  • Pesadelos;
  • Uso de métodos contraceptivos de forma combinada;
  • Realização de testes de gravidez de forma exagerada.

Uma dica da biomédica Carolina Pinhol é pensar em quantos testes de gravidez a pessoa tem necessidade de fazer durante o mês. “Quanto tempo depois de uma relação você fica pensando e criando cenários para entender se teve algum risco ou não?” Depois de identificar os sinais do transtorno, a orientação, segundo a psicóloga Maria Eduarda, é buscar a psicoterapia como tratamento. “A gente procura identificar o motivo pelo qual a pessoa desenvolveu essa fobia e trabalha em cima disso para tentar reverter os sintomas”, explica. Dependendo do caso, é necessário o uso de medicação. 

Como a desinformação intensifica a tocofobia

Com frequência, viralizam nas redes sociais imagens e relatos sensacionalistas, como fotos de bebês segurando DIU e histórias de mulheres que afirmam ter  "menstruado durante a gestação”. De acordo com a biomédica Carolina Pinhol, ainda que a tocofobia se desenvolva a partir de traumas, a desinformação e esses conteúdos falsos criados relacionados à gravidez podem contribuir para que o medo aumente ainda mais. 

E foi pensando nisso que ela criou o projeto Ser Intime, no Instagram, para incentivar a educação sexual. Depois de perceber que a tocofobia era um transtorno muito presente entre suas seguidoras, Carolina, que também é mestre em Biologia Celular, decidiu focar os conteúdos da página neste tema, estimulando o autoconhecimento e esclarecendo dúvidas sobre métodos contraceptivos. Para ela, a falta de informação e de profissionais qualificados potencializa o problema. “As pessoas tomam anticoncepcional sem entender como funciona, se aquele realmente é o método ideal e acabam usando do jeito errado, que aumenta o risco de uma gravidez”, comenta. 

A especialista lembra que o tema é pouco falado nas escolas, o que gera dificuldade na hora de filtrar as informações. A gente aprende o básico de biologia e às vezes nem isso. Já vi casos em que a própria professora de Biologia tinha vergonha de falar sobre sistema reprodutor. Então, isso já vai gerando uma repressão”, afirma. No Instagram, a biomédica esclarece os sintomas reais de gravidez e explica como funcionam os métodos contraceptivos, além de desmistificar conteúdos sobre a gravidez. Entenda três dos principais mitos que geram pavor nas mulheres:

Os bebês podem nascer segurando o DIU?

Falso: Carolina explica que é impossível o bebê nascer segurando o DIU, já que o dispositivo fica separado dentro do útero. “Ele pode até grudar ali no corpo do bebê no momento da expulsão, no parto natural, mas essas fotos são feitas só para chamar atenção mesmo e serem sensacionalistas”, enfatiza. 

Todos os tipos de antibiótico cortam o efeito do anticoncepcional?

Falso: antibióticos muito específicos influenciam no efeito da pílula, diz a especialista. “A maioria deles não influencia, mas pode dar um sangramento de escape, que não está relacionado a uma falha do método.” Ela também pontua que o anticoncepcional não deve ser considerado um vilão: “é preciso entender quais métodos existem, quais se encaixam na sua rotina, para descobrir o que é o ideal para você. O anticoncepcional não é um vilão, mas ele realmente não funciona para todo mundo no sentido de adaptação, não de eficácia”, diz.

As mulheres podem menstruar durante a gestação?

Falso: gravidez e menstruação são incompatíveis, afirma a especialista. “A menstruação ocorre porque não teve uma fecundação do óvulo que foi liberado. O  útero não recebeu o embrião, então ele descama. A menstruação é uma resposta a essa falta de fecundação, é um evento oposto.” 

Contudo, pode acontecer o sangramento gestacional, que apresenta características diferentes: “não vai ser periódico igual a menstruação, não vai ter o mesmo fluxo, não vai durar o mesmo tempo e também vai estar acompanhado de vários outros sintomas, porque esse sangramento normalmente é sinal de algum problema naquela gravidez”, explica.

Carolina lista alguns pilares para desenvolver ter um pensamento crítico em relação aos boatos que viralizam na internet:

• Conheça seu corpo 

Entender como funciona seu corpo e quais são as características do seu ciclo menstrual é essencial para evitar e até mesmo controlar a tocofobia. “Entender quais são as alterações normais do seu corpo antes de menstruar, antes de ter o sangramento da pausa, o que você costuma sentir? Assim, você consegue entender quando tem alguma coisa realmente ‘errada’, não só de gravidez, mas também de algum problema que possa estar acontecendo”, ressalta a especialista.  

• Entenda seu método contraceptivo

Outro fator importante é conhecer o mecanismo de ação do seu método contraceptivo. Entender como ele atua no corpo, se está inibindo a ovulação, mudando o muco ou é apenas um método de barreira e o que prejudica a eficácia pode deixar as mulheres mais tranquilas. Carolina também explica que todos os métodos têm a taxa de falha do uso perfeito e do uso típico. “Uso perfeito é exatamente igual ao que está escrito na bula, sem nenhum fator externo que possa afetar a eficácia dele. Já o uso típico é como as pessoas costumam usar, que às vezes tem umas pequenas falhas, por isso a taxa de falha fica menor”, afirma. Segundo a especialista, ter a confiança nestes dois pilares é um caminho para fugir dos pavores causados pelos casos sensacionalistas na internet. 

Quem sofre com o transtorno da tocofobia costuma recorrer à pílula do dia seguinte com bastante frequência para evitar a gravidez. Contudo, apesar de ser um método válido, ele deve ser usado com cuidado e apenas em casos de emergência, já que pode provocar consequências graves. “Não é saudável e pode trazer consequências mais diretas de muito enjoo e vômito, dor de cabeça, alterações físicas, sangramento anormal também. A longo prazo, pode trazer consequências mais graves, até AVC”, alerta Carolina.


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