Viajando sozinha após os 40 anos: um passo para a autodescoberta

Viajando sozinha após os 40 anos: um passo para a autodescoberta

Escritora gaúcha conta como lidou com preconceitos e hoje inspira outras mulheres a viverem a experiência da viagem solo

Camila Souza

Adriana Haas fez sua primeira viagem solo para Buenos Aires aos 45 anos

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A experiência de viajar sozinha começa sendo desafiadora para todas mulheres, mas para as mais maduras, dar o primeiro passo pode ser ainda mais difícil. Isso porque além dos medos envolvidos e das dúvidas na hora de planejar, o preconceito social parece se intensificar com mulheres acima de 40 anos.

A jornalista gaúcha Adriana Haas fez sua primeira viagem solo aos 45 anos, quando estava passando por um momento de transição de carreira. O destino escolhido foi Buenos Aires. Nessa época, ela também buscava caminhos e inspirações para escrever um livro sobre maturidade, o “40 e picos”. Adriana define a experiência como “fantástica”, mas enfrentou barreiras desde o primeiro momento.

“Não foi uma decisão fácil. Desde o momento de comprar a passagem eu fiquei meio receosa. Embora eu faça muitos programas sozinha e isso não seja um problema para mim, viajar sozinha parece que é um outro nível. E quando temos 45 anos, tem mais o agravante de achar que estamos velhas demais para isso”, conta.

Adriana destaca que o preconceito é um “viés muito inconsciente” e que muitas vezes impede esse primeiro passo: “Vem aquela sensação muito forte para mulheres da minha geração que é associar a ideia de mulheres sozinhas com mulheres fracassadas, que por algum motivo não são agradáveis o suficiente para ter companhia na viagem.” Mesmo receosa, a jornalista estava decidida a embarcar nessa experiência, que foi o pontapé inicial para depois viver aventuras ainda maiores.

Em solo argentino, Adriana começou a se habituar com a própria companhia. Durante esse tempo, aproveitou para ganhar inspirações para o livro e refletiu sobre sua trajetória de vida. “Como eu não tinha que negociar meu planejamento com ninguém, tive tempo comigo mesma para definir não só os caminhos que eu queria para o livro, mas os caminhos que eu ia querer para minha vida a partir de então. Foi um momento de autodescoberta”, afirma.

Hoje, com 47 anos, a escritora já se aventurou sozinha na Argentina, na Espanha e em Portugal. Ela destaca que foi ganhando mais coragem ao longo do caminho e que na última viagem, sentia não ter medo de nada. “Uma amiga falou que parecia que ela tinha ganhado super poder. Porque se ela estava ali sozinha, ela é capaz de fazer qualquer coisa. Essa é a parte mais bacana que eu acho de viajar sozinha, principalmente depois dos 40.”

Depois de dois anos fazendo viagens solo, Adriana desbloqueou alguns medos e destaca como se sentiu forte depois de resolver imprevistos. “Sempre pensamos no pior, e esse é um dos motivos pelos quais temos medo. O cérebro vai criando esse cenários terríveis para o futuro e, quando a gente se depara com as situações, vê que não era tão terrível assim”, explica.

Na hora de escolher hospedagem, a jornalista opta por hostels ou aluga quartos na casa de moradores. Isso fez com que ela se desafiasse a ter novas experiências. “Eu nem considerava a hipótese de dividir banheiro com alguém, e hoje não apenas divido o banheiro como alugo quarto na casa das pessoas.” Contudo, nessa opção de acomodação, é necessário tomar alguns cuidados: “Sempre procuro anfitrião verificado, que tenha boas avaliações, uma anfitriã mulher. É o equilíbrio entre tomar os cuidados e me arriscar, sempre essa balança.”

“Contágio emocional”

Ao longo da jornada, Adriana se inspirou em algumas mulheres que também viajam sozinhas e compartilham suas histórias nas redes sociais, entre elas Fê Moretz (@malaenxuta) e Olivia (@garimpandoporaiviagens). “Eu acho que ia ser esse contágio emocional é bem importante quando a gente quer fazer alguma coisa desafiadora pela primeira vez”, ressalta.

Hoje, a jornalista também se tornou referência para outras pessoas que querem começar essa jornada de autodescoberta. Adriana começou a usar seu perfil no Instagram (@adri.haas) para abordar o tema e incentivar mulheres a darem o primeiro passo para uma viagem solo. “Me despertou a questão de falar a respeito, porque eu achei tão legal, tão possível de fazer se a gente tiver coragem, planejando direitinho”, conta.

Conforme começou a falar sobre o assunto nas redes sociais, ela percebeu o interesse do público. Mensagens como “eu não me achava corajosa o suficiente, mas se você fez com 45 anos, eu acho que consigo fazer também” incentivaram a escritora a focar no tema. Com tanto retorno positivo de suas seguidoras, decidiu escrever o workbook “Viagem-Crisálida”, que fala sobre viajar sozinha na maturidade. “Eu acho que toda mulher deveria fazer isso na maturidade, ganhar coragem para viver essa experiência”, diz Adriana.

Além de encorajar outras mulheres, a escritora dá dicas de planejamento, uma parte essencial do processo que também traz mais confiança. “Quando começamos a planejar e vemos as coisas acontecendo, vamos criando coragem no caminho.” Para ela, é essencial organizar uma programação que fuja do comum. Por isso, recomenda analisar os roteiros prontos na internet e escolher somente os locais que fazem sentido para a pessoa. “Veja qual é o seu objetivo, o que você quer descobrir a respeito de você mesma para que seja uma experiência, não só um álbum de fotos no Instagram”, enfatiza.

A história de Adriana e de muitas mulheres que se aventuram pelo mundo sozinhas na maturidade mostra que não existe tempo certo para realizar sonhos. Com um bom planejamento e coragem, a viagem solo pode ser o primeiro passo para uma jornada de autodescoberta.


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