A esperança virou obstáculo

A esperança virou obstáculo

Por Egui Baldasso*

Egui Baldasso

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É óbvio que está todo mundo de saco cheio. E faz tempo. Quase dois anos de uma vida deixada para depois, de um sentimento de vivermos parados, à mercê, à espera. Passada a fase mais crítica da pandemia, combatida pela vacinação em massa no nosso país, embalamos numa percepção e expectativa de que em 2022 tudo ficaria para trás e voltaríamos àquela realidade sem máscara e pânico que respirávamos antes de tudo isso começar.

Criamos em nós a esperança de que havíamos vencido a batalha. Cada família com suas dores e perdas, mas também com superações e a fé de que era preciso seguir em frente. Brindamos o ano novo a isso e acordamos num janeiro que marcaria a tão aguardada virada. Mas o otimismo gerado e compartilhado por muitos parece incomodar quem se instalou em meio às notícias ruins, num cenário de desolação completo e que não dá mostras de que irá tirar suas pantufas e levantar do sofá já com a forma estampada do dono, enquanto a vida quer continuar lá fora.

Estranhamente, a esperança virou obstáculo. Nós, os que apostamos em um ano de retomada e volta aos sonhos e realizações, estamos quase nos escondendo da fúria de alguns que preferem as lamúrias, o descontentamento, a permanência em um estado de letargia que ajuda ninguém, muito pelo contrário. Do nada, querer ver mais sorrisos do que desespero virou um ultraje, quase uma desumanidade.

Está bem claro para todo mundo que há, ainda, a necessidade de cuidados com a transmissão do coronavírus. Que a nova variante Ômicron está varrendo o Brasil e, por isso, as precauções estão longe de acabar. Mas justamente o seu alto grau de contágio, somado com a baixa letalidade, essa também proporcionada pelas vacinas, pode nos tirar do fundo de um poço de onde precisamos definitivamente sair.

Nossa sanidade depende disso. Da esperança, de novas metas, novos futuros. Um presente vivido como merecemos. Com todas as alegrias e inevitáveis infortúnios que completam a vida. Para isso, peço encarecidamente que nos deixem acreditar que saímos dessa, pessimistas. Ainda iremos nos cuidar, mas seguiremos vivendo.

Jornalista*


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