A família e a ‘crise do cuidado’

A família e a ‘crise do cuidado’

Por Franciane Bayer*

Franciane Bayer

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Sem famílias sólidas, com valores e amor, não há esperança de uma nação justa e próspera. Na verdade, sem família, sequer haveria civilização. A vida começa e se desenvolve no seio familiar. Um país nada mais é do que uma grande associação de famílias, unidas em comunidades, bairros, cidades, estados. Não é por acaso que a Constituição fixa a família como "base da sociedade", com "proteção especial do Estado". Assim, no Dia Internacional da Família, cabe questionarmos: o poder público cuida bem das famílias brasileiras?

Para começar, é preciso separar o cuidado necessário da intromissão desmedida — uma confusão comum quando se fala em ação estatal. Oferecer condições para que as famílias se fortaleçam não tem nada a ver com burocratas governamentais decidindo pelos pais sobre questões de educação, saúde, sexualidade e religiosidade. Parece óbvio dizer isso, mas não podemos nos esquecer de que há quem postule a proibição e criminalização da educação domiciliar, ainda que realizada de modo meramente complementar ao ensino formal.

Em vez de se ocupar de regular a vida familiar, o Estado deve oferecer condições para uma vida mais digna e promissora. De fato, as políticas públicas deveriam se voltar para um problema que compromete seriamente a estrutura doméstica: aquilo que especialistas chamam "crise do cuidado". Sem a natural rede de apoio familiar e comunitária com que contavam no Interior ou no subúrbio, as famílias vivem hoje de modo atomizado nos grandes centros. Pais e (sobretudo) mães têm então de escolher entre trabalhar fora ou ficar em casa cuidando de suas crianças ou de seus idosos.

Buscar recursos para a família e desassistir os hipossuficientes ou cuidar de quem precisa e desfalcar o caixa familiar? Sem políticas públicas resolutivas, não há saída para esse impasse. Algumas medidas são simples. Por exemplo: bancos de talentos regionalizados para que mães encontrem trabalho de meio turno perto de casa. Ou a inclusão do tempo de cuidado materno no cálculo da aposentadoria da mulher. É preciso apenas mais vontade de resolver e menos ânsia por regular a vida de quem é responsável por cuidar da base da nação e da civilização.

*Deputada federal (Republicanos-RS)


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