A grenalização da vacina

A vacinação no Brasil contra a Covid-19 deveria ser motivo de comemoração para todos, mas infelizmente não é isso que observamos nas redes sociais. Estamos diante da maior pandemia do século, em que mais de 200 mil brasileiros perderam a vida, com reflexos na economia que perdurarão por anos. Enquanto isso, ficamos imersos num debate polarizado agindo como torcedores, usando memes, disseminando fake news e defendendo políticos a qualquer custo.

A inclusão digital trouxe o efeito colateral da “unificação da ignorância”, com a formação de verdades absolutas sobre diversos temas por “formadores de opiniões” convictos de tudo ao seu redor. Em “O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry dizia: “Tu te tornas responsável por quem cativas”. Ao formar uma legião de seguidores, esses “líderes” acabam reféns da “ignorância unida” e para não os desapontar reduzem o nível de qualquer debate a paixões de torcedores em lados opostos, por isso muitos usam o termo grenalização.

Mas essa comparação é inadequada. Por um lado, o futebol é uma paixão nacional, sendo comum o debate polarizado entre as torcidas da dupla Gre-Nal envolvendo ídolos como Renato Gaúcho e D’Alessandro nas discussões acaloradas entre colorados e gremistas. Mas, por outro lado, a apaixonada torcida Gre-Nal já demonstrou várias vezes que nenhum torcedor é maior que o clube. Em momentos em que o time vai mal, os torcedores pedem a saída de Renato, assim como no Inter D’Alessandro já foi para a reserva com muitas críticas.

Essa grenalização faria bem ao Brasil. Somos uma só torcida e não tem problema cada um ter o seu político/ídolo preferido. O torcedor de verdade tem o clube como sua paixão principal e não o ídolo do momento. As vacinas são uma conquista de todos e uma esperança para salvar a vida de milhares de brasileiros. Precisamos ser torcedores do país e nos inspirarmos em gremistas e colorados, pois os governantes nunca serão mais importantes que a nação.

*Diretor-presidente da Fundação Família Previdência