A música fica para sempre

A música fica para sempre

A associação, arrisco, foi homenagem instantânea.

Egui Baldasso

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‘A música é tocada por amor, viajar é feito para o amor.” Lembrar a tradução livre de uma letra que encaixa sentimento e caminhos foi minha primeira reação ao saber de um momento tão triste vivido por duas famílias e diversas comunidades no último 8 de julho. Não me entendam mal por associar dor a versos e acordes, mas foi natural, ao ler nos portais de notícias que três jovens musicistas haviam perdido a vida em um acidente de carro, entre as cidades de Bom Princípio e São Vendelino.

A associação, arrisco, foi homenagem instantânea. Não os conhecia. Não tive a chance sequer de ouvi-los nas orquestras que tocavam. Nem pude ser encantado pelo talento que embalou incontáveis momentos na curta passagem por aqui de cada um deles. Mas arrisco também que, certamente, essa associação com a música, desde o primeiro minuto de saudade, era o que iriam escolher para serem lembrados. Nas vezes em que mostraram seu valor pelo som, o toque no instrumento, a entrega ao que mais amavam.

Daniele Schwab, Pietro e Lorenzo Dessotti, todos entre 21 e 22 anos. Sonhos em construção, carreiras em movimento, vidas em plenitude. Silenciados pelo destino, interrompidos pela solidão da estrada. Mesmo que os caminhos sejam feitos para chegarmos, ainda nos surpreendemos quando a mensagem que vem não é da segurança, mas com a voz desesperada do impensável. Não cabe imaginar causas, tentar achar explicação. A dor da família é tamanha que razões não aplacariam revolta nem acordariam de um pesadelo enfrentado de olhos bem abertos.

O que poderá amenizar tudo isso não é o tempo. Ele nem sempre passa fazendo carinho e trazendo conforto. E, para algumas dores, não há tal consolo. O que pode significar um traço de paz para os corações de pais e irmãos são os impactos que quem vai deixou no mundo. Pelo trabalho, pelo caráter, pela empatia. Os breves anos, claro, não foram suficientes para tudo que imaginavam, mas bastaram para marcar tantas pessoas, melhorar outras muitas e saberem que se fizeram eternos.

A música é tocada por amor. E na viagem que é viver, também carregamos saudades na bagagem para onde formos. A dor é inevitável, que a lembrança carinhosa e a recuperação de quem fica também o seja.


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