A perigosa Amazônia

A perigosa Amazônia

Por: Sérgio Becker*

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Em agosto de 1978, estive, como repórter, no município de Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, quando não existia celular e nem Internet. Embora tenha permanecido menos de vinte horas na mata, deu para sentir a atmosfera da selva Amazônica. E, como me senti num lugar em que se alguém desaparecesse, ninguém ficaria sabendo, aproveitei a carona de um ônibus e na mesma noite do dia da chegada retornei para Cuiabá. Hoje, dispomos de celular e da Internet, mas a selva permanece a mesma: exuberante, mas escura e ameaçadora. E possuidora de uma riqueza fantástica: muitos peixes nas águas fartas, metais valiosos no subsolo (os mais velhos devem lembrar da extração de ouro em toneladas na Serra Pelada) e, acima deste, uma fauna múltipla e uma floresta com árvores frondosas e vegetais de alto valor terapêutico. Uma riqueza que aguça o interesse estrangeiro e enriquece quem a explora desmedidamente.

Ali, existem dois tipos de homem branco: o caboclo extrativista, que tira dela o seu sustento, e o explorador abusivo, que invade qualquer espaço, garimpa indiscriminadamente, queima a mata, derruba as árvores, caça ou pesca clandestinamente. E, na ânsia do enriquecimento rápido, não se intimida em matar de quem desconfia ou aquele que ameaça atravessar ou apenas denunciar o seu criminoso caminho. Foi o que aconteceu com o seringueiro Chico Mendes e com a missionária Irmã Dorothy. 

O seringueiro e ambientalista Francisco Alves Mendes Filho dedicou-se à luta pelos pequenos produtores e pela preservação da Amazônia. Jurado de morte, chegou a ter escolta de segurança, mas na noite de 22 de dezembro de 1988 foi assassinado, aos 44 anos, em Xapuri, no Acre, por Darci Alves, a mando de seu pai, o grileiro de terras Darly Alves. A religiosa norte-americana naturalizada brasileira, Dorothy Mae Stang, lutava em defesa dos pequenos proprietários de terra. Foi assassinada em Anapu, no Pará, no dia 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos, a mando do fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão. Agora, infelizmente a história se repete com o jornalista inglês Dom Phillips e com o indigenista Bruno Araújo, por terem testemunhado pesca clandestina no Vale do Javari. Além de pescadores ilegais, atuam na região narcotraficantes, madeireiros e garimpeiros. Diante da dimensão e das características da Amazônia, penetrá-la exige extrema prudência e medidas de segurança e, ainda assim, esperar pelo pior.

* Jornalista


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