A sociedade da insensatez

A sociedade da insensatez

Por Christopher Goulart*

Christopher Goulart

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Qualquer avaliação sem maiores esforços nos aponta, por todos os ângulos, a divisão da nossa sociedade quando consideradas questões importantes para o futuro do nosso país e da humanidade. Não me refiro tão somente ao enfadonho debate entre “direita e esquerda”, mas também a qualquer tentativa de aprofundar o pensamento em diversas situações que envolvem a coletividade. Por vezes, tenho a impressão de que exercer o raciocínio crítico não é compreensível perante a imensa maioria da população.

Analisando essa triste realidade que só empobrece o debate no Brasil e no mundo, tenho que os homens públicos, a título de exemplo, devem partir de determinada premissa ideológica para logo exercê-la nas situações práticas do quotidiano. Isso porque não podemos deixar-nos seduzir pela ideia de que somos donos da razão. Ocorre que, de outra sorte, faz-se necessário mostrar ao público a visão geral de modelo de sociedade que carregamos em nossas convicções, sob pena de fazer um papel boçal, de despachante da burocracia do Estado ou até da iniciativa privada.

Vivemos na sociedade da insensatez, em que a cultura depreciativa ensina que o melhor é apontar o dedo para os julgamentos sumários, sem antes olhar para si próprio e enfrentar o mundo da hipocrisia. Em outro plano, mesmo com convicção formada de determinado assunto, ainda assim é importante “espancar” essa ideia própria, colocá-la em questionamento para, aí sim, fortalecer ainda mais a possibilidade de contribuir com a sociedade de forma sólida.

Tenho visto inclusive quem chega ao absurdo de buscar argumentos para a justificativa de uma guerra entre Rússia e Ucrânia, mesmo que por vezes disfarçadamente. Não compreendo aqueles que condenam corretamente os movimentos imperialistas do “grande irmão do norte”, que, ao longo da história, apoiou golpes militares e patrocinou guerras em todo o mundo e agora apoiam exatamente a mesma violência praticada pela ingerência externa comandada pelo império da força, como apoiam também a agressão ao direito da autodeterminação dos povos.

Lamento que seja assim. Ser sensato está mesmo fora de moda.

Advogado, primeiro suplente de senador (PDT/RS)*


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