Agricultura irrigada: um rio de oportunidades perdidas

Agricultura irrigada: um rio de oportunidades perdidas

A estiagem tem sido perversa para todas as atividades agropecuárias

Cezar Henrique Ferreira

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Planejar é sempre melhor do que agir de forma emergencial. Nas políticas públicas, isso deveria ser seguido de forma exemplar. Só que não. No RS, um exemplo desta ausência de gerenciamento é a carência de programas sustentáveis de irrigação. Previsibilidade é o que não falta, mas deixam quase tudo para São Pedro. A estiagem tem sido perversa para todas as atividades agropecuárias, mais ainda para as famílias da agricultura familiar. É sabido que um plano estadual de irrigação estruturado, que supere a lógica quadrienal das gestões e venha a se tornar um projeto de Estado permanente, seria capaz de impulsionar a produtividade em até três vezes se compararmos as culturas irrigadas com as de sequeiro. É constrangedor que o RS ostente míseros 300 mil hectares beneficiados pela irrigação (sem a área do cultivo de arroz) diante de mais de 27 milhões de hectares em 365 mil estabelecimentos rurais.

Tão prejudicial como a ausência de projetos é a carência de dados de monitoramento em culturas importantíssimas, como a do milho e dos hortigranjeiros. Neste ponto, encontraremos justificativas concretas na descontinuidade da Fundação de Economia e Estatística (FEE), da Fepagro e pelo estrangulamento orçamentário da Emater. Sim, é isso mesmo. Condenada à morte lenta por inanição, a Emater resiste apenas pela alta qualidade dos seus quadros técnicos, que superando todas as adversidades, seguem prestando serviços de excelência às famílias da agricultura familiar da melhor maneira possível, com equipes cada vez mais desestruturadas. É um caso típico de incoerência: tão importante para os planos políticos dos gestores e, ao mesmo tempo, condenada ao sacrifício. 

É, portanto, inexplicável a carência orçamentária sob o ponto de vista político, econômico e social. Para o Senge-RS, uma política sustentável e eficiente para a implementação cada vez maior de projetos de irrigação deve respeitar algumas premissas elementares. Em primeiríssimo lugar, repito, deve ser um projeto de Estado e não de governo. Precisa ser sustentada pelo fortalecimento da assistência técnica em favor dos produtores (entenda-se recuperação prioritária da Emater). Passa pelo trabalho convergente de todos os segmentos econômicos, sociais e institucionais, públicos e privados, especialmente pela valorização dos Comitês de Bacias Hidrográficas, hoje abandonados. Em suma, que prevaleça o espírito público em favor do RS e da sua gente.

 


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