Aprendemos com as mortes no trânsito?

Aprendemos com as mortes no trânsito?

Por Rodolfo Rizzotto*

Correio do Povo

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No Brasil é possível prever quantas pessoas vão morrer a cada feriado prolongado. No da Independência, há pouco mais de 30 dias, foram 933 acidentes, apenas nas rodovias federais, com 97 pessoas mortas e 1.103 feridos. Para conscientizar os usuários das rodovias e homenagear as vítimas de acidentes e seus familiares, o SOS Estradas lançou a campanha: “Não seja responsável por histórias sem final feliz!”.

Nosso objetivo é relembrar vítimas que morreram nos feriados do ano anterior como a pequena Alice de apenas 29 dias. No dia 12 de outubro de 2019, seus pais saíram de Resende, cidade do interior do Rio de Janeiro, junto com os avós, levando a menina para conhecer um familiar numa cidade distante apenas 20 km. Na altura do km 294 da Rodovia Presidente Dutra, local de pista dupla, conhecido como Retão de Resende, foram surpreendidos por uma carreta na contramão. Morreram os cinco ocupantes do carro e o causador da tragédia. O caminhoneiro estava sob efeito de cocaína e por isso invadiu a pista contrária e matou Alice e sua família, justamente no Dia da Criança e de Nossa Senhora Aparecida.

Como o responsável pela morte de Alice morreu, o processo foi arquivado. Não fosse nosso empenho para que a perícia pelos menos coletasse o cabelo do caminhoneiro para fazer o exame toxicológico, sequer saberíamos que ele era usuário regular de drogas e estava sob efeito de cocaína. Provavelmente atribuiríamos a fatalidade, ao sono ao volante.

Entretanto, além do drama humano, o mais grave é que não aprendemos com essas tragédias, sequer em respeito as vítimas e seus familiares. No caso do caminhoneiro, há provavelmente um somatório de fatores. Inclusive a exploração desses profissionais da estradas que muitas vezes usam drogas para se manterem acordados. Precisamos investigar e tomar medidas para que isso não continue ocorrendo.
Aqueles que morreram na violência do trânsito podem salvar vidas desde que estejamos dispostos tirar lições desses episódios dramáticos. É uma forma de evitarmos que outras vidas sejam perdidas totalmente em vão. Por isso, quando a imprensa divulgar o balanço do feriado deste 12 de outubro nas rodovias brasileiras, lembre que não são apenas estatísticas. São histórias de vida que ficaram pelo caminho, como a da pequena Alice.

*Especialista em trânsito


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