Argentina, 1985

Argentina, 1985

Por: João Neutzling Jr.*

publicidade

Dirigido por Santiago Mitre, o filme “Argentina 1985” narra a luta dos promotores de Justiça Julio Strassera e Luis M. Ocampo para condenar os militares argentinos envolvidos na guerra suja daquele país (1976-1983). A película está indicada ao Oscar 2023. Em março de 1976, um golpe de estado, liderado pelos militares, derrubou o governo argentino da presidente Isabelita Perón. O golpe foi liderado por Jorge Vidella e o país mergulhou em um período de trevas e crimes que chamou a atenção do mundo.

Henry Kissinger, então secretário de Estado dos Estados Unidos, concedeu aval ao golpe, conforme pode-se conferir em Kissinger approved Argentinian “dirty war” | World news | The Guardian. O Congresso Nacional da Argentina foi logo dissolvido e o Poder Judiciário amordaçado. Ao mesmo tempo, mais de 30 mil argentinos desapareceram, milhares fugiram do país diante do quadro de horror.

No episódio conhecido como “Os voos da morte”, dezenas de presos políticos, além de universitários, membros da oposição, líderes sindicais e até as madres de La Plaza de Maio eram torturados nos porões da Escola Superior de Mecânica da Armada (Esma). Essas pessoas também eram drogadas com emprego de sonífero. Além disso, tinham as pontas dos dedos cortadas com um cutelo. A arcada dentária era destruída com alicate para impedir a identificação dos cadáveres. Eles eram levados em um avião militar para serem jogados, ainda vivos, no rio da Prata. Conforme relata o livro “El vuelo de Horacio Verbitsky” (1995), estima-se que quatro mil argentinos morreram desta forma brutal.

Depois da derrota humilhante na chamada Guerra das Malvinas, contra o Reino Unido, em 1982, os militares perderam todo apoio político e popular e logo Raul Alfonsín foi eleito presidente, isso em 1983. A democracia renascia depois de um período de trevas no país vizinho. A história mostrou que a luta dos promotores Strassera e Ocampo não foi em vão. Emilio Massera e Jorge Vidella foram condenados à prisão perpétua em julgamento realizado em 1985. Vidella entrou para a história como o verdadeiro “cão de satanás na América Latina”, tendo morrido na prisão, em 2013. O filme tem o mérito de mostrar às novas gerações os horrores das ditaduras sul-americanas para que estes crimes nunca sejam esquecidos e nunca mais ocorram.

 

*Auditor estadual, bacharel em Economia, Mestre em Educação e professor


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895