Cegueira crônica

Cegueira crônica

Por Gilberto Jasper*

Gilberto Jasper

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Em todos os segmentos da vida vivenciamos avanços incríveis. Doenças raras e novas são enfrentadas pelo talento de cientistas e profissionais de saúde. Distâncias são reduzidas com a tecnologia, como se viu na pandemia. Exemplos se multiplicam, mas o complicador – sempre! – é o fator humano. Para o bem e para o mal.

Durante os dois últimos anos, alunos de todos os níveis sofreram prejuízos irrecuperáveis. Mesmo com aulas virtuais, a ausência do contato com professores, colegas e funcionários das escolas compromete o desenvolvimento social, indispensável na formação humana.

A pandemia, entre tantas transformações, impôs uma revolução antecipada por antigos filmes e animações, como “Os Jetsons”. A trama mostrava carros voadores, robôs domésticos e cenas consideradas devaneios à época. Hoje, os aplicativos, ferramentas onipresentes com a popularização dos celulares, dispensam visita às agências bancárias e lojas. Transações financeiras e compras são feitas a qualquer momento, em todo lugar.

As facilidades, no entanto, esbarram na imperfeição humana. A mesma tecnologia que aproximou amigos, familiares e colegas é arma na aplicação de golpes que ocupam manchetes diárias. A “criatividade para o mal” – como dizia minha avó – parece inesgotável. Chegamos ao ponto de duvidar até mesmo da voz do filho ou amigo quando recebemos uma ligação, fato, por sinal, cada vez mais raro.

O comportamento humano é uma eterna incógnita. Especialmente no Brasil, este país tão desigual, radicalizado e belicoso, é sempre fator a ser considerado com peso expressivo. Ideias brilhantes, defendidas com entusiasmo e vigor, são combatidas com altas doses de ódio quando se trata de iniciativa de algum adversário ou desafeto.

A pandemia agravou inúmeros problemas que o país enfrenta há décadas. A rivalidade que as redes sociais exibem – e turbinam – todos os dias ficará ainda mais exacerbada com a proximidade das eleições de outubro. Isso é fácil de prever. Ao invés de servir de instrumentos de construção, os avanços tecnológicos serão armas de destruição de biografia, reputações e boas ideias. A cegueira da radicalização não terá vencedores. Isso não é inédito. Afinal, sequer na pandemia conseguimos unir o Brasil. 

*Jornalista


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