Como o empreendedorismo pode mudar a saúde

Como o empreendedorismo pode mudar a saúde

Por Vinícius de Souza*

Correio do Povo

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Situação corriqueira de quem é médico no Brasil: ouvir, de familiares próximos, como uma falha elementar no sistema de saúde havia lhe impactado e gerado sofrimento. Recentemente, me vi em mais uma situação do tipo, que envolveu a espera tardia pela possibilidade de consulta com um especialista. O dia a dia de profissionais como nós envolve acolher pacientes, lidar com sua dor e angústias nos atendimentos e, também, ser a escuta para quem vive a difícil jornada nas filas por consultas, procedimentos e exames. Tornamo-nos referência para expressar nossa opinião sobre o duro cenário da saúde em nosso país.

A formação técnica e ética do médico, embora seja um alicerce sólido no cuidado da saúde, muitas vezes é perigosamente limitada pelos desafios nas falhas estruturais do setor. Somos capacitados para diagnosticar e tratar as mais diversas condições, mas as deficiências no sistema prejudicam nossa eficácia. Como se não bastasse, a escassez de recursos, burocracia excessiva e desigualdades no acesso aos serviços minam o cuidado ideal e previsto na Constituição. De modo que o médico, mesmo em seu primor técnico, sempre será limitado pelo ambiente que o cerca, tornando-se refém de forças contra as quais não necessariamente aprendeu a lutar.

Diante disso, como mudar a realidade? Como ir à luta? Como responder a mais esta angústia dos pacientes? A resposta está em ser protagonista da mudança e das próprias convicções pela via do empreendedorismo. Ele surge como uma ferramenta valiosa para abordar os problemas crônicos do sistema de saúde, especialmente na criação de soluções inovadoras que tragam eficiência para aprimorar modelos de atendimento e, sobretudo, oferecer mais qualidade no cuidado.

O mesmo Brasil de tantas desigualdades também desponta nessa revolução pela inovação: no país, já são mais de 1.000 healthtechs em operação. De acordo com o Global Market Insights, essas empresas devem valer 504 bilhões de dólares em 2025. Gestão hospitalar, interoperabilidade, TI, análise de dados e telemedicina são alguns dos segmentos que estão se beneficiando pelas soluções trazidas por esses negócios. À frente deles, médicos que uniram a vontade de cuidar de seus pacientes com o desejo de empreender, integrando seus conhecimentos clínicos a uma base tecnológica. Profissionais que estão moldando o futuro da medicina, proporcionando avanços que beneficiarão toda a sociedade.

Claro, não serão apenas as healthtechs que solucionarão as falhas estruturais do setor. Mas elas apontam um caminho promissor para o qual todo o país deve voltar seus olhos. Do cuidado diário nos consultórios às startups inovadoras, sejamos nós, médicos, protagonistas das transformações que queremos para a saúde do Brasil.

*Diretor de Políticas Estratégicas do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers)


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