Crise pouca é bobagem

Crise pouca é bobagem

Por Lasier Martins*

Correio do Povo

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O ano que se encaminha para o fim já é o mais penoso na vida dos brasileiros. O inesperado e amargo impacto da pandemia gerou demandas emergenciais em inéditas e gigantescas escalas, sendo cobertas pelo caixa federal. Após 10 meses do desembolso de centenas de bilhões de reais para manter a saúde e sustentar pessoas, além de impedir o colapso de negócios e administrações estaduais e municipais, efeitos da crise ainda não foram contidos e seguirão por mais algum tempo.

Com número recorde de desempregados, em torno de 14 milhões, o país segue o rumo do abismo fiscal nos primeiros meses do próximo ano, inaugurando novo desafio para governo e Congresso. Como parlamentar, sinto angústia extra por não saber sequer quando será votado o Orçamento da União para 2021, sinalizando incertezas a mercados e famílias. E a última coisa que desejo é ver os vulneráveis lançados à própria sorte.

Mais de uma vez, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apelou em reuniões com senadores para que eles “salvassem a República”. Ouvimos argumentos tanto para aprovar quanto para barrar projetos relacionados à estabilidade das finanças do país. Mas o fato é que a real agenda exigida pelo grave momento, com privatizações e reformas estruturantes, não andou. No seu mais recente grito de socorro, Guedes falou até da volta da hiperinflação.

A advertência sobre o risco de o país não conseguir rolar a dívida pública pode soar exagerada, considerando que a inflação ficará em torno de 3% este ano e que os juros básicos estão nos 2% anuais desde agosto. Mas o que seria mero terrorismo fiscal do ministro é, na verdade, a constatação de que o endividamento federal quebrou o limite de segurança e, se seguir acelerado, consagrará o caos.

Uma forte deterioração das contas públicas e a explosão do passivo pode deixar o Banco Central sem condições de evitar a disparada do dólar e, por tabela, a carestia. Sem as reformas administrativa e tributária, a desconfiança desgovernará o Brasil. Tudo isso tem a ver, para uma reversão de expectativas, com os recentes resultados nos comandos dos municípios, como também a sucessão das duas casas do Congresso – Senado e Câmara.

*Senador pelo RS


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