Cultura: um todo complexo

Cultura: um todo complexo

O estudo posiciona o setor cultural e criativo dentre os dez de maior relevância na economia nacional.

Beatriz Araujo

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O Produto Interno Bruto (PIB) da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic) do Brasil, divulgado pelo Observatório Itaú Cultural, com grande ressonância no país e no exterior, possui caráter estratégico e exerce papel relevante na economia e na gestão cultural, pública ou privada. O estudo posiciona o setor cultural e criativo dentre os dez de maior relevância na economia nacional. A produção de dados e de estimativas econômicas confiáveis para a formulação de políticas públicas e institucionais bem estruturadas, que tornem visível o real impacto da cultura no Brasil, é um processo real e palpável. Ao mesmo tempo, é sintoma de uma nova etapa da história cultural brasileira e um ativo para a produção de riquezas.

Os números expostos na plataforma de mensuração da Ecic demonstram que a cultura e as indústrias criativas geraram R$ 230,14 bilhões em 2020 – o equivalente a 3,11% das riquezas produzidas no país. Isso representou empregos para 7,4 milhões de trabalhadores, com cerca de 130 mil empresas e participação da ordem de 2,4% nas exportações brasileiras. No Rio Grande do Sul, em 2020, o PIB da Ecic foi de 1,77% sobre o total da riqueza produzida, com geração de mais de R$ 23 bilhões em receitas. Em 2021, as empresas da economia criativa somavam um total de 9.173. No quarto trimestre de 2022, o universo de trabalhadores ocupados chegou a 410.631, o equivalente a 7% do total da população economicamente ativa do Estado.

Na formulação de indicadores para medir os impactos da economia da cultura e das indústrias criativas, a primeira consideração a ser destacada diz respeito ao escopo da cultura. Conforme o Sistema Nacional de Cultura, é preciso compreendê-la sob os aspectos simbólico, cidadão e econômico. Em sua complexidade, o ecossistema cultural envolve, necessariamente, o desenvolvimento humano e social, a elaboração simbólica, a promoção da sensibilização, o estímulo à criticidade e o desenvolvimento econômico.

Esses aspectos sinalizam que a mensuração econômica precisa captar dados e informações sobre desigualdade social, democratização do acesso à produção cultural, disparidades históricas de gênero e de raça, mobilidade social, concentração e distribuição de renda. A dinâmica econômica dos setores criativos envolve bens e serviços culturais a partir da compreensão de sua própria diversidade, em que a função social está presente. Essa diversidade está expressa na moda, nas atividades artesanais, no cinema, no mercado editorial, nas artes visuais, na arquitetura, nas artes cênicas, no design, na música, nos museus e no patrimônio, material e imaterial. Ao analisar impactos econômicos, não podemos perder de vista o conteúdo essencial e a força simbólica das manifestações artísticas e culturais. No mundo contemporâneo, é imperativo compreendermos a complexidade e a lógica da economia da cultura para a implementação de políticas públicas assertivas.


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