Do politicamente correto à hora da verdade

Do politicamente correto à hora da verdade

Por Rodrigo Sousa Costa*

Correio do Povo

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Alguns anos atrás, durante apresentação de um trabalho de faculdade sobre novos deveres de empresas e empreendedores, fizemos uma provocação para colegas que pareciam inspirados pelos melhores ideais: – Agora vamos falar de nós mesmos. Quantos somos doadores de órgãos? Quem aqui já fez doação de sangue? Quem faz algum tipo de trabalho voluntário? Quem participa de uma ONG, entidade de classe ou filantrópica? Com poucas mãos levantadas perguntamos se nossa cidadania se resumia a votar de dois em dois anos, fazer críticas e se estes eram os jovens que iam mudar o Brasil.

Quase 20 anos depois, num país polarizado por opiniões divergentes sobre o bem e o mal, o certo e o errado, num Estado onde os gaúchos se orgulham de sua consciência, no primeiro semestre de 2021, 40% das famílias disseram “não” à doação dos órgãos do ente que perderam. No entanto, 110 pacientes aguardavam em Porto Alegre por um transplante de pulmão e outros 15 por transplante de coração. Com milhões de pessoas ativas nas redes sociais debatendo, curtindo e cancelando em cada novo tema, manifestando uma posição sobre o que os outros deveriam fazer ou como deveriam se comportar, não somos capazes de coletivamente, cada um fazer a sua parte. Basta deixar claro para nossos familiares que, em caso de uma tragédia, queremos doar nossos órgãos em benefício de 2.033 gaúchos que aguardam uma doação que poderia trazê-los de volta à vida normal.

Em plena pandemia, choramos por tantas vidas perdidas sem pensar naquelas que poderíamos salvar. Leva em torno de um minuto preencher a manifestação de vontade no site e avisar os familiares sobre a decisão. Se ninguém pretende morrer precocemente, ninguém também está livre de precisar de uma doação de órgãos. Exatamente por essa razão é tão importante uma ação de cada um de nós, para que outras vidas sejam salvas. Entre debates tão acirrados sobre causas que deveríamos apoiar ou cancelar, na hora da verdade a decisão é somente nossa. São oito receptores cujas vidas dependem de um único doador. Não importa se ele era de esquerda ou direita, branco ou negro, gay ou hétero. Quem doou será apenas quem os salvou num saudável gesto de amor por seus semelhantes.

*Vice-presidente da Federasul


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