Educação no Brasil: na pratica a teoria é outra

Educação no Brasil: na pratica a teoria é outra

Por Antônio Carlos Côrtes*

Antônio Carlos Côrtes

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De todos os instrumentos do homem, o mais impressionante é, sem duvida, o livro. Os outros são extensões de seu corpo. Os microscópios, o telescópio, são da visão; o telefone da voz, então temos o arado e a espada, extensões do braço. Mas o livro é uma extensão da memória e da imaginação (Borges).

Em muitos estados do Brasil, cerca de três em cada quatro crianças do 2º ano estão fora dos mais simples padrões de leitura. Dado acima da média, considerando de uma em cada duas antes da pandemia.

Algo urgente precisa ser feito para diminuir estas perdas que têm influência logo ali. Todos os discursos que façam não passam de retórica de ópera-bufa. Autoridades de educação precisam buscar soluções objetivas.

Pensando nisto recordo Cora Coralina: “Estavam ali parados. Marido e mulher. Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça tímida, humilde, sofrida.

Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho, e tudo que tinha dentro.

Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula, entregou sem palavra.

A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou, se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar. E não abriu a bolsa.

Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar e a mulher participa sem ajudar.

Da mesma forma aquela sentença: ‘A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar.’ Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada, o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso e ensinar a paciência do pescador.

Você faria isso, leitor?

Antes que tudo isso se fizesse o desvalido não morreria de fome?

Conclusão: Na prática, a teoria é outra.”

Advogado, escritor e psicanalista*


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