Estiagem não é mais exceção

Estiagem não é mais exceção

Caio Rocha

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Nos últimos cinco anos, o Rio Grande do Sul amargou três estiagens, atingindo diretamente a economia do Estado, a rotina dos municípios e a renda dos produtores rurais. Se esse fenômeno climático praticamente já entrou na rotina do agronegócio gaúcho, também faz sentido que o Estado se prepare para enfrentá-lo com ações estruturantes que envolvam toda a cadeia produtiva. Políticas públicas robustas são necessárias para amenizar os efeitos de uma estiagem duradoura. Caso contrário, medidas emergenciais, como as que estão sendo tomadas, serão cada vez mais caras e frequentes.

O Rio Grande do Sul possui regime hídrico de 1.500-1.800 milímetros por ano, quantidade suficientes ao desenvolvimento das culturas. Mas esse volume é mal distribuído e irregular, castigando as nossas principais lavouras. Quem vive no campo sente esse efeito na pele e no bolso. Dados da Federação dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), de fevereiro deste ano, estimam as perdas reais provocadas pela falta de chuvas em R$ 50 bilhões, atingindo 221 municípios. Somente para as prefeituras, o rombo no orçamento é de R$ 1 bilhão. 

Isso significa impacto da porteira para fora, com prejuízo econômico e social. Quando o agronegócio vai mal, estados e municípios deixam de arrecadar. Esse é um recurso que faz falta para a saúde, para a educação e para a segurança. Nesse caso, portanto, tratar medidas preventivas como pauta obrigatória é um investimento. Para isso, é urgente a estruturação de um programa para a diminuição de perdas em razão das mudanças climáticas, tendo como base três principais eixos:

Agricultura sustentável – elaboração de um programa estadual por meio de um plano de agricultura de baixa emissão de carbono, tornando a nossa agricultura mais competitiva e proporcionando à cadeia produtiva acesso a crédito internacional. Dentro deste contexto, a necessidade de investimento na armazenagem de água e na proteção de nascentes.

Manejo de solo – de acordo com pesquisadores do centro de trigo da Embrapa ainda há grandes problemas com manejo, o que resulta em solos degradados e com baixo aprofundamento das raízes.

Irrigação – esse é um investimento alto, mas com efeitos de longo prazo. Projetos adequados à realidade do Rio Grande do Sul, com respeito ao meio ambiente, podem ser implantados nas áreas mais críticas, auxiliando na produtividade.

Não estou descobrindo a roda. Quem vive a agricultura conhece muito bem cada um desses pontos citados. Todas essas ações, porém, demandam a união de governo e setor privado na elaboração das políticas e busca por financiamentos a juros compatíveis com a atividade. É uma decisão política.

Estados e municípios já vêm agindo para socorrer os produtores. Mas estamos falando aqui de medidas estruturantes, que servirão para mitigar esse risco claramente mapeado. Apenas somando esforços e dividindo responsabilidades será feito o que é necessário.


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