Fiscalização faz de conta

Fiscalização faz de conta

Por: Gilberto Jasper*

publicidade

Para mortais comuns sem conhecimentos de contabilidade e administração, como eu, choca saber que uma grife do calibre das Lojas Americanas implodiu. A cada dia novos detalhes são agregados ao festival de absurdos.

O escândalo contábil iniciou-se com a descoberta de “inconsistências em lançamentos contábeis de R$ 20 bilhões”. Diversos órgãos de fiscalização só despertaram depois que o estouro chegou às manchetes. Antes todos cochilavam em berço esplêndido.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já instaurou 10 processos relacionados ao escândalo da varejista. Simultaneamente, já tramitam dois inquéritos sobre possível uso de informação privilegiada e indícios de fraudes contábeis de R$ 20 bilhões.

A isso se agregam mais de 16 mil credores. Além dos impactos financeiros e da credibilidade do sistema, a descoberta impactou quase 20 mil funcionários. Imagino que o fechamento de filiais espalhe terror entre milhares de famílias. Há temor de demissão sem indenização, coisa comum nestes casos.

Lendo sobre a Americanas é inevitável recordar a Operação Lava Jato. O desvio de bilhões de dólares, a remessa de dinheiro para destinos no exterior e dentro do país não despertaram interesse de órgãos de controle. Mas qualquer inconsistência na declaração do Imposto de Renda gera preocupação, contratempos e prejuízos.

Como explicar a um pequeno empreendedor que trabalha meio ano para pagar impostos que megaempresários quase implodiram o mercado financeiro com mais um escândalo? O que dizer dos órgãos de controle, internos e externos, que não souberam detectar a bancarrota iminente da Americanas?

Neste viés, as tradicionais lojas Marisa anunciaram recentemente uma dívida líquida de R$ 566 milhões. Além da reestruturação financeira, soube-se da renúncia de Adalberto Pereira Santos do cargo de presidente-executivo. Infelizmente, o anúncio de escândalos financeiros tornou-se rotina. Só há consternação ou revolta quando se trata de empresas tradicionais ou de valores exorbitantes.

A naturalidade com que se cavam rombos sob a omissão de quem deveria fiscalizar é repulsiva aos olhos de nós, pobres contribuintes, submetidos aos rigores da lei e à obrigatoriedade de pagar impostos. Somos, cada vez mais, mortais comuns.

*Jornalista


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895