Formação médica é requisito para saúde de qualidade

Formação médica é requisito para saúde de qualidade

Por Dr. Marcelo Matias*

Dr. Marcelo Matias

publicidade

Estamos em ano eleitoral e, certamente, quando as promessas de campanha forem intensificadas, a saúde será uma das prioridades. Uma “saúde de qualidade” estará entre os temas mais repetidos nos comícios e debates. O que temos visto ao longo de várias décadas em nosso país, porém, é uma subvalorização da saúde. Um dos questionamentos e alertas que precisamos fazer é sobre a qualidade da formação médica a partir da abertura exorbitante de novos cursos de Medicina ocorrida na década passada.

Sob a justificativa da falta de médicos no Brasil, o governo passado criou o programa Mais Médicos, prevendo a expansão de cursos e vagas de graduação em Medicina. Em muitos casos, os vieses político e econômico foram os motivos mais determinantes para essas aberturas. Não foi atacado o problema da dificuldade da permanência ou da falta de estímulo à transferência de médicos para regiões mais afastadas, como em localidades no Norte e Nordeste, onde a média de profissionais por habitante é muito mais baixa. No fim das contas, além de não se solucionar essa questão, criou-se uma situação preocupante relacionada à formação realmente adequada de profissionais.

Dados da Radiografia das Escolas Médicas Brasileiras, divulgada pelo Conselho Federal de Medicina, apontam que das 163 escolas médicas abertas de 2011 até o primeiro semestre de 2020, 65 (39,9%) estão em 50 municípios que não cumprem nenhum dos três parâmetros considerados ideais para o funcionamento dos cursos. Esses requisitos são a oferta de cinco leitos públicos de internação hospitalar para cada aluno no município sede do curso, o acompanhamento de cada equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF) por no máximo três alunos de graduação e a presença de um hospital com mais de cem leitos exclusivos para o curso. A falta de estágios poderá levar um médico a começar a trabalhar sem ter treinado todas habilidades necessárias a um profissional bem capacitado.

Não se quer dizer que o número maior de vagas não resultará em aumento do índice de excelentes médicos. A falta de atenção em relação às exigências e a prioridade a questões políticas e econômicas acima da questão de saúde poderão, entretanto, acarretar sérios prejuízos à qualidade da saúde. Dessa forma, quando as promessas de campanha neste ano mencionarem o tema, é importante lembrarmos do debate sobre um dos requisitos importantes para a qualidade da saúde: a formação adequada dos profissionais.

Vice-presidente do Simers*


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895