Gênio da graça

Gênio da graça

Por Telmo Flor*

Correio do Povo

publicidade

OTacho nunca cresceu. Literalmente. Só faltavam as asinhas para parecer mais ainda com aqueles anjinhos barrocos de olhos esgazeados e com cara de quem está aprontando uma traquinagem. E era um gênio, nas duas acepções mais conhecidas da palavra. Era genial em suas charges e frases, as “tiradas” maravilhosas no cotidiano das redações. Ou um gênio daqueles das histórias infantis, que saíam de suas garrafas ou apareciam do nada para espalhar alegria com desejos atendidos e trapalhadas.

Era um pai responsável, um chefe competente, um profissional brilhante em suas diversas habilidades no jornalismo. Mas sempre foi uma criança. Tinha a criatividade e a alegria das crianças. Um gênio criança entre nós, que nunca perdia a graça, o bom humor, o otimismo. Sempre pronto para uma observação engraçada, uma piada perspicaz, uma charge daquelas que arrancavam um riso espontâneo e imediato.

Graça foi o que ele espalhou nas páginas dos jornais e nas redações que frequentou. Conheci e convivi com o Tacho já na primeira fase dele aqui no Correio do Povo, entre o final dos anos 80 e o início da década seguinte, quando ele aqui ingressou como diagramador e logo estava fazendo ilustrações e ajudando no redesenho do jornal. E sempre alegrando a todos com frases ditas timidamente, como quem nem sabia que estava fazendo graça. Aliás, o lado frasista do Tacho talvez não fosse tão conhecido dos leitores do Correio do Povo, talvez um pouco mais dos que o acompanharam no Grupo Sinos, com quem o CP o dividiu desde 1994. No jornalismo gaúcho, somente Carlos Nobre, que o antecedeu em décadas, era capaz de perpetrar frases em sequência diária com tanta inteligência a graça. Aqueles que com ele conviveram têm lembranças de frases e caricaturas pessoais certeiras, que sempre atingiam o alvo com alegria.

Muito há para falar sobre o Tacho, sobre a sua luta contra o câncer, a persistência, a lindeza que espalhou com seu trabalho. Queríamos todos, seus colegas e amigos, poder fazer como ele, achar alguma graça em tudo. Mas não dá. As lágrimas são inevitáveis. Tacho vai fazer muita falta em nossas páginas e redações.

*Diretor de Redação do Correio do Povo


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895