Incerteza econômica e concursos de beleza

Incerteza econômica e concursos de beleza

Por Brunno Henrique Sibin*

Brunno Henrique Sibin

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O título pode causar surpresa ao leitor que depara com termos que aparentemente não guardam relação. Na verdade, a origem dessa relação remonta à década de 1930, especificamente, ao capítulo 12 da “Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, de John Maynard Keynes, um dos economistas mais importantes do século XX.

O ano de 2022 vem sendo marcado por grande instabilidade nos índices de inflação, câmbio, juros, bolsa de valores. A aparente melhoria dos indicadores associados à pandemia da Covid-19 não trouxe consigo as bases de confiança para a retomada do crescimento econômico.

Isso porque a incerteza é uma condição inerente ao funcionamento da economia e, por isso, as pessoas se respaldam em comportamentos convencionais. Um deles é a noção de que a situação atual da economia tende a permanecer indefinidamente sem alterações. No entanto, na prática, o que acontece é que os agentes econômicos buscam antecipar tendências de mudanças, o que induz comportamentos especulativos.

É aí que entra o concurso de beleza citado no título. Keynes, para exemplificar a postura dos agentes em antecipar movimentos, mencionou concursos de beleza de jornais na Inglaterra. Neles, participantes deveriam escolher os rostos mais bonitos, sagrando-se vencedor aquele cuja escolha mais se aproximasse da média das escolhas em conjunto. Assim, tal qual observado neste concurso, os “vencedores” na economia devem ter condições de antecipar qual será a média das opiniões dos agentes de mercado.

Ocorre que, em economia, ninguém consegue prever nada. Ou alguém saberia no início de 2020 que seríamos assolados por uma pandemia sem precedentes? Ou ainda que o conflito geopolítico entre Ucrânia e Rússia chegaria às vias de fato? Esses acontecimentos, imprevisíveis, impactaram e ainda continuam a impactar os preços-chave da economia, afetando nossas vidas.

O papel da incerteza sobre a formação das expectativas é decisivo sobre a economia e, inexoravelmente, nossas escolhas são guiadas por posturas especulativas diante do futuro desconhecido. E, nesse tipo de concurso, dificilmente conseguimos sair vencedores.

*Auditor Público Externo do TCE/RS Doutor em economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)


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