Legado

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Joel Maraschin

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Há um ano, uma voz calma, acolhedora, que erguia pontes e primava pelo diálogo, se silenciou em meio a um Brasil dividido. Figura emblemática, um dos principais articuladores políticos da Nova República, Eliseu Lemos Padilha pregava uma peça a todos os seus amigos de jornada nos deixando. Advogado de formação e político por vocação, Padilha serviu como ministro de três presidentes de ideologias distintas, um feito que atestava sua habilidade no complexo xadrez da política nacional.

Primeiro, foi Ministro dos Transportes no governo de FHC, período no qual demonstrou grande competência, em uma pasta tão importante para conectar o país. Sob a presidência de Dilma Rousseff, assumiu a Aviação Civil, enfrentando o desafio de modernizar os aeroportos às vésperas da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Porém, foi no governo Temer que assumiu a missão mais desafiadora e estratégica, ser chefe da Casa Civil. Nesta posição, geriu a agenda do governo e atuou como o principal articulador político, com papel-chave na implementação da reforma trabalhista e da previdência.

Sua capacidade de transitar entre diferentes partidos, mantendo o respeito e a confiança, foi o seu maior legado. A habilidade em articular, negociar e construir consensos mostrou-se indispensável para a governabilidade e a estabilidade política do Brasil. Palavra dada era palavra empenhada. Acordo feito era acordo cumprido.

Um ano após seu falecimento, a ausência de Padilha ainda é sentida na política. Seu exemplo de dedicação ao diálogo em um ambiente frequentemente marcado pela divisão, além de fazer falta, serve como um lembrete tanto para a condução de governos quanto para a democracia. Em tempos desafiadores, a figura de Padilha ressoa como um apelo à moderação e à busca incessante pelo progresso da nação. Sua partida deixou um vazio, evidenciando o quão crucial é a presença de líderes que saibam encontrar no diálogo a convergência para resolver problemas históricos de um Brasil tão fragmentado.


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