Lições ignoradas

Lições ignoradas

O temporal que assolou Porto Alegre e Região Metropolitana trouxe tragédias, mas também ressaltou a necessidade premente de medidas preventivas.

Gilberto Jasper

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O temporal que atingiu Porto Alegre e Região Metropolitana no dia 16 deixou um rastro de sofrimento, duas mortes e muitas lições. O fenômeno climático, com ventos de quase 100 km/h, não constitui novidade, mas a teimosia em desafiar a natureza tem custado caro pela ausência de adoção de medidas preventivas. O 1,3 milhão de árvores de Porto Alegre é motivo de orgulho. E de permanente preocupação. Historicamente, as administrações ignoram sinais da necessidade de monitoramento permanente da situação vegetal para detectar espécimes desgastadas pelo tempo.

Em um domingo de sol, em 2011, na Praça da Encol, galhos caíram sobre uma arquiteta de 49 anos. As sequelas impediram que ela continuasse a rotina de esportista. Pouco depois, em 31 de agosto de 2013, um homem de 64 anos morreu ao ser atingido por uma árvore de 20 metros no Parque da Redenção. Ambos os casos deflagraram uma grande mobilização e falou-se com ênfase na elaboração de um inventário para identificar árvores antigas e condenadas, mas, assim que o tema saiu dos noticiários, o assunto caiu no esquecimento. O mesmo ocorreu em 6 de outubro de 1988, com a queda da marquise da Lojas Arapuã, no centro de Porto Alegre. Nove pessoas morreram, mas a inspeção das demais marquises jamais chegou a termo.

A MetSul tem advertido que “os temporais tendem a ser mais frequentes do que o habitual neste verão com risco aumentado de vendavais”. Trata-se do resultado do fenômeno El Niño que, em janeiro de 2016, devastou Porto Alegre. Apesar dos alertas, a estrutura de enfrentamento é insuficiente e falta expertise para mitigar o sofrimento da população.

Ventos de quase 90 km/h mostraram a necessidade de investir, também, no plantio inteligente, Sou leigo no assunto: as ruas de Porto Alegre são pródigas em exemplos da incompatibilidade entre o tamanho de muitas árvores com o espaço onde foram plantadas. Também é preciso investir na agilização do serviço de poda como medida preventiva. A falta de planejamento racional, associado ao descaso das empresas prestadoras de serviços de água e luz, revolta a população condenada a prejuízos, transtornos e à repetição de sofrimentos inadmissíveis. Ao invés de CPIs ineficientes, deveríamos empregar energia na busca de alternativas viáveis, adotando tecnologias modernas empregadas em países desenvolvidos. Chega de discurso. Os contribuintes esperam ações concretas para uma vida normal.


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