Lixo e o fator humano

Lixo e o fator humano

Essa situação tem ganhado destaque nos últimos dias devido aos problemas no recolhimento de entulho em diversos bairros.

Gilberto Jasper

publicidade

Furto de tampas, incêndio, depredações e uso indevido. Este é o resumo da situação atual do sistema de coleta de lixo através do emprego de contêineres em Porto Alegre. O tema ganhou generosos espaços nos últimos dias em decorrência de problemas no recolhimento de entulho em diversos bairros. Soube-se, inclusive, que a mais recente moda envolve o furto dos amortecedores usados na caixa de metal erguida por caminhões em sua coleta. Alguns especialistas dizem que se trata, na verdade, de peça solta pela manipulação errada na operação de erguimento por parte dos caminhões.

Há muito tempo, sou crítico do comportamento dos porto-alegrenses em relação ao lixo. Trabalho no centro, resido no bairro Petrópolis e caminho bastante pela cidade e costumo observar detalhes da rotina desta grande cidade. Não interessa o quadrante da Capital que for observado, a realidade é a mesma e mostra total descaso da população em relação à destinação dos dejetos residenciais e comerciais.

Costuma-se creditar aos bairros de baixa renda ou mesmo ao centro de Porto Alegre a fama de lugares onde o desleixo com o lixo prepondera. Trata-se de um engano crasso. Frequento a Praça da Encol, localizada em um bairro com um dos metros quadrados mais valorizados da Capital. O que se vê são lixeiras transbordando com rejeitos como embalagens plásticas, latas de bebidas, dejetos animais, restos de chimarrão e garrafas de vidro para ficar apenas em alguns exemplos.

Em relação aos contêineres, a população ignora que ali só deve ser depositado entulho orgânico. Recentemente, flagrei a funcionária de uma farmácia que lotava o contêiner com caixas de papelão. Indaguei o porquê e ela foi sincera:

– O gerente mandou a gente se livrar do lixo!

Este é o pensamento de boa parte da população porto-alegrense, que sequer separa, dentro de casa, o entulho que produz. A separação é comportamento corriqueiro em vários países e a prática deveria integrar o currículo básico.

O esforço do poder público, somado aos gastos com a destinação do lixo, constitui uma prática do tipo “enxugar gelo” porque é infinita, cara e irracional. Sem a adesão dos porto-alegrenses, o caos atual se manterá ou até se agravará com prejuízos à mobilidade e à saúde pública.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895