Médicos anônimos

Médicos anônimos

Por Eduardo Battaglia Krause*

Eduardo Battaglia Krause

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Faz um ano. Naquele meio de semana um aparente desconforto me levou à UTI do Hospital Moinhos de Vento com uma arritmia cardíaca que me assustou. Quando dei por mim, auge da Covid, já havia passado pela triagem da emergência. Menos mal não estava infectado. Daí diretamente para uma sala lotada de atendimento de casos considerados mais graves. Procedimentos de praxe, exames cardíacos, acompanhamento da pressão arterial, medicação venosa, anúncio de procedimento no outro dia, enfim. Noite terrível, calor, tensão, máscara permanente, movimento pleno de um hospital onde os médicos, enfermeiros, atendentes, davam o máximo de si para minorar o sofrimento dos que ali estavam.

Pela manhã, ao meu lado, o leito vazio. Alguém não tinha resistido. Pouco tempo depois os plantonistas entraram apressados com outro paciente que da cadeira de rodas foi colocado na cama livre. Fazem de tudo, massagem cardíaca, choque, usam todos os ensinamentos que a medicina lhes ensinou. Ele sucumbe. Presenciei. Na pressa deixaram a cortina que nos dividia aberta. Perguntei aqueles jovens heróis se sabiam quem era. Responderam que dada a gravidade não tiveram tempo de verificar no prontuário. Dr. Ivo Nesralla, um dos papas da cardiologia, acabara de falecer ao meu lado. Incrivelmente daquilo que ele mais conhecia, o coração. 

Àquela equipe médica, jovens ainda na faixa dos 40 anos, rendi minha solitária homenagem, hoje pública. Antes de se preocuparem em saber quem era o paciente, se dedicaram a salvar uma vida, não importava o tamanho ou a importância. Casualmente a vida de um homem que honrou a medicina. Neste momento grave em que a pandemia ainda não foi vencida, aqueles plantonistas são um modelo a ser seguido. Será com a dedicação, com o trabalho deles e com a vacina que a saúde pública será restabelecida. Não será, certamente, com posições antagônicas que em nada contribuem para a saúde de todos.

*: Advogado


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