Malthus revisado

Malthus revisado

Por André Malta Martins*

André Malta Martins

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Filósofo iluminista inglês que viveu no século XVIII, Thomas Malthus é mais conhecido por ter formulado o alerta segundo o qual o avanço da produção de alimentos não acompanharia, na mesma proporção, o crescimento da população. Naquela época e até poucas décadas atrás sua previsão fazia todo o sentido, uma vez que o mundo começava a experimentar, animado pela Revolução Industrial, a grande explosão demográfica que perduraria pelos próximos três séculos, ensejando o temor de que logo poderia não haver recursos para alimentar a todos, na medida em que a pujança das fábricas radicalizava a conversão de agricultores das zonas rurais em operários das grandes cidades, reduzindo a oferta geral de carne e de grãos.

A partir da segunda metade do século XX, contudo, essa expansão começou a dar sinais de fadiga e a população mundial que outrora havia dobrado de 3 bilhões para 6 bilhões nos 40 anos entre 1959 e 1999, hoje calcula-se que alcançará 10 bilhões somente em 2057, o que equivale a um crescimento de menos de 50% comparado ao último período medido. Por outro lado, o contínuo melhoramento genético associado ao aprimoramento das técnicas de cultivo e de criação garante a produção de cereais e de proteína em volumes razoáveis, especialmente no Brasil.

Contudo, se os indicadores mais recentes sobre “população x alimentos” revelam-se animadores, a problemática levantada por Malthus ainda preocupa, pois a mesma tecnologia que brindou o ser humano com o controle de natalidade e com melhoria dos bens de produção, agora ameaça o acesso de alimentos por conta da já perceptível automatização e extinção de postos de trabalho em vários setores da economia.

Em outras palavras, embora o crescimento populacional esteja sob controle e a produção de alimentos não esteja em risco pelas mudanças climáticas (pelo menos a curto prazo), a supressão da força de trabalho é o fator que mais tende a ameaçar a sobrevivência humana. Se vivo fosse hoje em dia, Malthus apontaria não a escassez de alimentos como componente de risco, mas a escassez de trabalho e de renda que acaba ao fim e ao cabo por afetar a disponibilidade e o acesso daqueles bens de consumo vitais.

Advogado*


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