Menos empurra-empurra e mais ação

Menos empurra-empurra e mais ação

A tempestade avassaladora que atingiu 60 municípios gaúchos na noite de 16 de janeiro ficará na memória como um lembrete alarmante da nossa vulnerabilidade diante de eventos climáticos extremos.

Luiz Zaffalon

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Milhares de árvores, símbolos de qualidade de vida nas cidades, sucumbiram diante de ventos impiedosos, resultando em danos à rede elétrica e deixando mais de 1,3 milhão de gaúchos às escuras. Gravataí, em particular, testemunhou a queda de mais de 30 mil árvores em questão de minutos, desencadeando uma série de consequências desafiadoras para o poder público e a sociedade. Viu-se interrupção do fornecimento de energia e de água, vias obstruídas e um rastro de destruição que afetou o patrimônio e a rotina de muitos cidadãos.

À frente do cenário desafiador que temos encarado desde o ciclone de junho do ano passado, torna-se claro que as mudanças climáticas são uma realidade inescapável de nossa era. Diante da certeza da repetição de fenômenos severos, não podemos nos resignar em transferir culpas. Devemos, isso sim, compartilhar soluções. A questão das árvores urbanas é um exemplo disso. De quem é a culpa quando uma árvore cai? Da Prefeitura? Do dono do terreno? Da concessionária? Da falta de uma legislação mais moderna? Embora todos atores e prestadores de serviços precisem assumir suas responsabilidades, o jogo de empurra-empurra que às vezes presenciamos não leva a lugar algum. Sem contar as soluções populistas e inexequíveis que surgem nestes momentos de crise, que, com o mínimo de apuro técnico, caem por terra pela simples incapacidade financeira. 

É preciso enfrentar temas como este de peito aberto e pensando exclusivamente no bem da cidade e do cidadão. É evidente que a arborização urbana tem papel fundamental na qualidade de vida. No entanto, é fundamental que repensemos a forma como gerenciamos e cuidamos das árvores no ambiente urbano. Isso requer uma abordagem de 360 graus, que envolva não apenas autoridades municipais e concessionárias de energia, mas também a população.

Em Gravataí, estamos convocando uma reunião de trabalho envolvendo diversas entidades, prestadoras de serviço e representantes da comunidade para debater o tema. Essa visão colaborativa, cidadã, é essencial para desenvolver estratégias eficazes de preparação e resposta a futuros eventos climáticos, que certamente ocorrerão. Na medida do possível, precisamos estar um passo adiante e não ficar só remediando. Enquanto nos empenhamos na reconstrução das áreas afetadas pela tempestade, é vital que mantenhamos um olhar voltado para o amanhã. Devemos agir de forma proativa, colocando em prática medidas preventivas e investindo em infraestrutura resiliente às intempéries. Somente através de uma abordagem coletiva e comprometida poderemos enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e garantir um ambiente urbano seguro e sustentável para as atuais e futuras gerações.

 


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