Morre Luiz de Miranda

Morre Luiz de Miranda

Por Eduardo Jablonski*

Eduardo Jablonski

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Morreu o poeta Luiz de Miranda. Recebi a notícia pelo Whats do poeta José Eduardo Degrazia e da poeta Marinês Bonacina. Publicou 33 coletâneas de poemas e ganhou o Prêmio Açorianos pelo livro “Monolítico”. Era meu amigo. Quando eu trabalhava como professor universitário em Porto Alegre, a gente se via diariamente para tomar um café num dos bares perto do Mercado Público. 

Fui a todos os seus lançamentos, conheci todas as suas manias. Uma vez se recusou a ser entrevistado pelo Fantástico apenas porque teria de se levantar às 10h da manhã, coisa que não admitia. Chegou a se candidatar à Academia Brasileira de Letras, mas, pouco antes da votação, retirou a candidatura. Foi membro da Academia Rio-Grandense de Letras, mas pediu para sair por causa do pagamento da taxa anual. 

Luiz de Miranda levava muito a sério a sua missão poética. Tanto que se recusava a trabalhar em outra função que não fosse escrever um poema por dia. Vangloriava-se de produzir um poema em menos de 60 segundos, num jato. Também gostava de dizer que foi o poeta que mais publicou poesia no planeta, cerca de 4 mil páginas. Mario Quintana, por exemplo, publicou pouco mais de mil. Mas é claro que número de páginas não quer dizer muita coisa. 

A gente falava sobre literatura, sobre os seus projetos de livros. Ele contava histórias íntimas dos maiores escritores do RS. Sobre o Quintana, falou um segredo que, olha… Todos sabiam que Luiz de Miranda não era de fácil relacionamento. Porém a mim sempre me tratou com gentileza, como se eu fosse um filho literário dele. E devido a tudo que fez por mim, fui mesmo. Tudo que tenho na literatura eu devo a ele, que, “metaforicamente falando”, pegou-me pela mão e me levou a todos os locais importantes, apresentou-me às pessoas certas, ele me construiu. Ele queria que eu aparecesse tanto quanto ele próprio. Por isso pediu que eu escrevesse quatro prefácios e quatro orelhas para as obras dele, além de três livros individuais sobre a sua poesia (“Luiz de Miranda, o senhor da palavra”; “Palavra Revelação em Luiz de Miranda”; “Luiz de Miranda, o vendaval da poesia”). Durante os 12 anos em que fomos amigos, citou-me nas entrevistas que concedeu dezenas de vezes.

Do seu jeito, era muito generoso. Dizem que se mede a pessoa pelo bem que faz ao próximo. Luiz de Miranda só sabia ajudar literariamente, por intermédio da poesia e do meio literário. Nesse ponto, foi um grande ser humano. Que fique em paz!

*Professor


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