O drama dos fertilizantes

O drama dos fertilizantes

Por Lasier Martins*

Lasier Martins

publicidade

A guerra no Leste Europeu deixou a nu um grave problema estrutural que o Brasil escamoteia por décadas: a grande dependência dos fertilizantes importados, particularmente da Rússia. Mal estamos acabando de sair da trágica crise sanitária e econômica da pandemia e já mergulhamos noutra igualmente desafiadora, pois ameaça o mais vigoroso e estratégico setor produtivo do país, o agronegócio. Seus potenciais reflexos vão da perda de competitividade internacional à pressão extra sobre o bolso do brasileiro.

Mesmo tendo uma das maiores reservas mundiais de matérias-primas para insumos agrícolas e, ao mesmo tempo, quebrando recordes de produção e de exportação de grãos, com até três safras anuais, ainda importamos quase 80% dos fertilizantes. Planejamento ruim, burocracia e apostas em prioridades erradas nos levaram ao angustiante cenário atual. Creio, contudo, que das aflições hoje colheremos logo saídas permanentes. Isso porque soluções são visíveis e serão buscadas com rigor e eficácia.

Graças à grande apreensão atual quanto ao abastecimento de fertilizantes no futuro próximo, pairando incertezas acerca do conflito entre Rússia e Ucrânia, a necessidade mais urgente e óbvia é diversificar os fornecedores. Neste sentido, tanto governo quanto empresários rurais já deflagraram tratativas com Irã, Canadá e Catar para garantir volumes suficientes no segundo semestre. Movimentos nesse rumo foram percebidos nas viagens da ministra Tereza Cristina (Agricultura) e nos bastidores da Expodireto.

O aperto com a perspectiva de escassez de insumos básicos revelou negócio temerário em curso, envolvendo a venda de uma fábrica de fertilizantes em Três Lagoas (MS), pela Petrobras, para uma empresa russa. Trata-se de algo inaceitável por ampliar a dependência daquele país. Espero que essa crise acelere projetos de mineração de fosfato e potássio em diferentes áreas do país.

A indústria química alertou para o fato de que a insuficiente capacidade instalada do setor no país em atender à clientela pode ficar ainda mais restrita em razão não só da falta de matéria-prima, mas, sobretudo, pela carga tributária. Cadeia produtiva e investimentos futuros estão ameaçados com mudanças bruscas, sobretudo após decisão do governo de acabar com o Regime Especial da Indústria Química (Reiq) via medida provisória e contrariando decisão do Congresso. Não é hora de cometer tal descuido.

Senador pelo Podemos-RS*


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895