O papel do médico na sociedade

O papel do médico na sociedade

Por: Vinícius de Souza*

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O que devemos esperar dos médicos? Que pratiquem uma próspera medicina. Não parece sensato pedir algo a mais de uma profissão tão complexa. No entanto, a medicina de excelência sempre estará vinculada a uma preocupação real com o estado do paciente. E, muitas vezes, os problemas que impactam a vida do paciente estão relacionados com mecanismos muito distantes da cama de hospital. Assim, se o médico pretende agir de forma ética, ele precisa estender suas atuações.

Se a política rege todas as esferas da sociedade, o que garante que a arte médica não será distorcida por más políticas? Os médicos precisam pensar não só no paciente na maca, mas também naquele que nunca sequer chegou ao hospital. Precisam pensar em todos os fatores que possibilitaram que o paciente fosse vulnerável àquela doença.

Para ser devidamente ético, o médico precisa reconhecer a indissociável natureza política de sua profissão. Isso significa que nós devemos nos envolver mais ativamente com a vida da sociedade. Devemos nos organizar para combater os instrumentos que causam sofrimento: injustiça social, política, econômica e ambiental — aliás, é isso que os médicos sempre fizeram.

Forças sociais e estruturais são poderosas impulsionadoras da saúde e da doença. Violência, precariedade econômica, ecologia, transporte, sexismo, racismo, oportunidades educacionais, habitação e sistemas alimentares influenciam profundamente a saúde. As histórias de vida e de morte de nossos pacientes são manifestações dessas rachaduras de nossa sociedade.

Mas não é suficientemente complexo o estudo da medicina? De fato, mas, por mais complexa que seja a medicina, o balizador moral por trás dela é simples: o chamado médico é o de estar profundamente presente e ser o mais fundamental o possível para aqueles que sofrem. Se queremos realmente fazer o que é moralmente correto e eticamente melhor, devemos desafiar publicamente os mecanismos pelos quais esses padrões mais amplos de desestruturação social se manifestam.

Nossa tarefa é a de provocar e testemunhar essa ruptura com os malefícios sociais e ser exemplo de liderança para toda a sociedade. Não podemos perder mais tempo. Pelas vidas de nossos pacientes e pela ética de nossa profissão.

*Médico, diretor de Políticas Estratégicas do Simers


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