O que falta para a boa medicina chegar ao Interior

O que falta para a boa medicina chegar ao Interior

Formar médicos em faculdades sem estrutura não irá promover acesso à saúde

Dra. Tatiana Della Giustina

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O mapa de acesso à saúde nas regiões afastadas dos grandes centros foca na concentração de médicos, criando-se a noção de que o problema seria o baixo número de profissionais. Deste modo, a solução poderia parecer ser a abertura de mais escolas de medicina, um maior número de formandos ou a importação de médicos com diplomas estrangeiros.

O Brasil possui um número de escolas de medicina superior à dos EUA e da China. A indiscriminada abertura de escolas de medicina em pouco tempo nos vai levar a termos mais instituições do que a Índia, que possui o maior número de escolas de medicina do mundo.

Coloca-se nos ombros dos médicos a responsabilidade por fixarem-se em regiões afastadas. O Brasil possui uma proporção de médicos maior do que a de países desenvolvidos e com excelentes sistemas de saúde, como Inglaterra, Bélgica e França.

Os governos devem ter compromisso com as condições de trabalho dos médicos e constituírem a carreira médica, o que facilitaria que os formados em medicina no Brasil pudessem fixar-se em regiões periféricas, assim como os militares e funcionários do Poder Judiciário.

Faz-se necessário definir uma política de saúde integrada e sensível às diferentes realidades regionais, focada na qualidade de vida e na dignidade dos pacientes e médicos. “Mais médicos”, sem condições de trabalho adequadas, levam a mais diagnósticos tardios e à falta de acesso a tratamentos adequados.

Formar médicos em faculdades sem estrutura não irá promover acesso à saúde no Interior. Não precisamos de escolas de medicina mantidas abertas com sentenças liminares e com falta de insumos básicos, de produtos de higienização, de quesitos essenciais, como equipamentos modernos, programas de pesquisa e desenvolvimento de técnicas que qualificam os alunos.

O que funciona nos melhores sistemas de saúde são a boa formação de médicos e uma carreira estável na medicina, coerente, com possibilidades de ascensão por mérito e qualificação continuada, garantindo-se aos profissionais condições e infraestrutura para se instalarem em localidades afastadas.


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