O tempo que não vivemos

O tempo que não vivemos

Então, podemos dizer que foi um período no qual vivemos sem viver como fazíamos antes. Foi uma parada obrigatória,

Maria Cecília Kother

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De repente, todos nós demos uma parada no viver e passamos dois anos ou mais, talvez, numa inércia física e mental em decorrência da pandemia da Covid-19. Foi um tempo de vida que não se viveu, que passou e que não volta. Foi uma rotina diária com muito medo, ausência e estagnação. No entanto, a vida continuou assim mesmo.

Então, podemos dizer que foi um período no qual vivemos sem viver como fazíamos antes. Foi uma parada obrigatória, um vácuo involuntário, mas determinante. Foi um tempo quase vazio. Foi um viver diferente que deixou sequelas no campo da saudade, por não podermos conviver com as pessoas que faziam parte da nossa área afetiva e com as quais nos relacionávamos.

Contudo, esse tempo trouxe um forte apego que conduz à consciência de o quanto amamos a vida. Obrigada, Senhor, por eu estar viva! Não é um chavão, mas, sim, um sincero agradecimento e uma demonstração de gratidão e fé.

Esse tempo de vida não vivido em sua plenitude, e que aconteceu para cada um de nós, gerou sentimentos como medo, tristeza, surpresa, incerteza. Foi como um eclipse que sombreou aspectos variados da rotina do nosso viver. A memória, uma amiga e inestimável companheira, enfraqueceu e passou a ceder espaço para o esquecimento que fere a suave continuidade e que produz sustos e solavancos. Esse esquecimento atingiu quase todas as pessoas, chegando a tal ponto que passamos a respeitá-lo e a nos acostumarmos com a sua presença, levando-nos muitas vezes a deixar de manter contato com as pessoas de nosso convívio.
No entanto, é bom lembrarmos que nem mesmo o esquecimento nos tira o gosto e o amor pela vida. O que vivemos não se extingue, mas, sim, registra-se na continuação de nossa história, o que nos torna maiores, mais felizes e integrados com nós mesmos, com as circunstâncias e, principalmente, com as demais pessoas.

Viver é conviver, é administrar, é criar, é não perder tempo, pois o seu ritmo não para nem retorna mais. E é com e nesse ritmo que precisamos estar atentos e cuidadosos, desfrutando cada segundo de nossas vidas, para não interrompermos essa interessante e cativante sequência. Vida longa e feliz é um belo sonho.

Então, vamos atrás dele.


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